“Seguimos!”

por Gustavo Gitti

Eu terminava emails com um “Abração!” e frequentemente com a sensação de que nunca mais falaria com aquela pessoa. Parecia normal me relacionar apenas com o que os outros eram para mim: leitores, clientes, colegas de trabalho, amigos da dança de salão, seguranças, estranhos… Se a relação é utilitária, se não acessa o ser livre que calhou de estar por ali, se não transcende os limites de uma empresa, por exemplo, tudo acaba quando a pessoa muda de emprego. Resultado: fui perdendo muita gente pelo caminho.

Quando deixamos de participar das vidas que uma vez tocamos, nosso mundo se estreita. Além das pessoas próximas, a grande maioria de nossos pequenos encontros diários (presenciais e online), ainda que polida, é pontual: ao nos despedirmos, matamos sutilmente o outro. Não o visualizamos, no próximo minuto, continuando sua vida, como parte da nossa. Sem querer, fechamos a janela — e dificilmente ele vai nos procurar novamente. Pense em quantas vezes já fizemos isso.

Uma grande amiga tinha o costume de deixar um “Seguimos!” ao fim de seus emails. Eu podia ouvi-lo também a cada abraço de despedida. Por trás dessa expressão, havia uma paciência, uma espécie de sabedoria que enxerga qualquer situação como algo trabalhável, incessantemente aberto.

De fato, se nos dispomos a acompanhar mais pessoas, não demoramos a perceber que a vida nunca dá certo ou errado, nunca se restringe a um projeto ou a um casamento, a vida sempre segue. Então, um bom jeito de se relacionar com os outros é seguir junto, cruzando pelas várias experiências. Desse modo, muitas vezes apenas um primeiro e breve contato (um só café, um só email) acaba criando uma relação satisfatória, uma confiança de que o outro torce pela nossa felicidade e, igualmente, poderia pedir nossa ajuda a qualquer momento.

M.C. Escher, “Möbius Strip II” (1963) | Nós somos assim: nunca realmente perdemos contato

Experimente terminar seus últimos emails com “Seguimos!” e veja como isso o lembra de incluir aquela pessoa, como se eventualmente vocês pudessem de fato andar juntas. Temos uma capacidade infinita, sempre expansível, de manter mais e mais vidas em nosso fluxo mental.

Como converter micro contatos em relações

Usamos o trecho acima, originalmente publicado na revista Vida Simples (de outubro 2013), para sugerir uma prática dentro do ambiente do lugar: “Como converter micro contatos em relações”. Nela oferecemos algumas ideias dentro da arte de nunca fechar conversas, 7 possibilidades para aproveitamos qualquer contato (absolutamente qualquer contato, nem que seja um um comentário perdido num post sobre um assunto patético) para lembrar que há uma pessoa ali e que uma relação começou. Afinal, nenhuma relação termina, a gente sempre segue.

Os relatos de quem se propôs a praticar são a parte mais interessante. E esse experimento coletivo está só começando.