Um experimento silencioso

por Gustavo Gitti

Ouvimos muito sobre sustentabilidade, mas ainda nos acomodamos em realizar um ou outro ato mais consciente em vez de transformar a vida inteira: reciclamos em vez de produzir menos, compramos produtos “verdes” em vez de diminuir o consumo impulsivo, citamos ambientalistas em vez de aprender na prática. Desse modo, ações sustentáveis não surgem naturalmente, apenas por repressão e policiamento.

Ora, nós tecemos relacionamentos em incontáveis âmbitos e direções: conosco mesmos, com objetos, com pessoas, com organizações, com a natureza. A exploração de recursos naturais, o consumismo e a carência, por exemplo, desdobram uma mesma dinâmica em relações diferentes: desmatamos para enriquecer, compramos telas gigantes para nos entreter, sugamos atenção e sexo de pessoas para nos sentirmos vivos.

Sugiro, portanto, um experimento para descobrir um corpo e uma mente que não precisam de muito para ter prazer e ser feliz. Para simplificar a vida, reduzir nossa necessidade por produtos, entretenimento, distrações. Para que nossa satisfação não fique esperando um sucesso profissional, um apartamento, um casamento… Talvez essa incapacidade de repousar no tédio financie grandes tragédias ambientais e sociais.

Para entender o experimento, imagine-se bebendo, comendo, conversando e dançando com diferentes pessoas em uma festa de forró. De repente, acabam comida e bebida, a música cessa, as pessoas se vão. Pela primeira vez, você olha para seus pés, suas mãos, sua postura. Você para, enfim. Como fica seu rosto quando não precisa sorrir ou parecer sério, sem forjar expressão alguma? Como fica seu corpo quando você não mais se engaja em uma dança? Nesse repouso, o que sobra?

Normalmente, nosso ânimo é regulado pelas configurações externas. Sem relacionamentos ou trabalhos, não sabemos quem somos; sem estímulos e fenômenos luminosos, nos sentimos entediados. Sem autonomia de energia, sempre precisamos nos agarrar, comprar, jogar, controlar — ser puxado, envolvido de algum jeito.

Eis um experimento simples para você começar a desenvolver uma presença que se sustenta por si só: sente-se imóvel em silêncio por 15 minutos. Todo dia. Pare, relaxe, respire. Evite reagir a cada impulso que surgir em pensamento, emoção ou sensação corporal. Apenas observe como há algo vivo, incessante, quieto, descomplicado, espaçoso, sereno, além do que vem e vai em sua vida.

Com tal estabilidade de ânimo, podemos nos relacionar com tudo e todos de modo mais sustentável. Sugar menos, oferecer mais.

* Publicado originalmente na revista Vida Simples (dezembro 2011, edição especial verde)


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