Princípios ativos e apostas
“Tudo está dito: falta aposta.”
—Jorge Luis Borges
Eis algumas das nossas apostas, alguns dos princípios ativos por trás dos encontros, do conteúdo, das conversas e movimentações dos participantes do lugar:
Transformação
sem oba-oba
Já sabemos que dá para mudar o mundo, não precisamos de um dia de palestras celebrando isso — pelo contrário, vamos olhar para o que nos impede, fazer o trabalho sujo, sem alardes, sem ingenuidade ou wishful thinking. Começamos do ponto que vem depois, quando tentamos mudar algo e detectamos aflições, cegueiras, obstáculos internos, relações travadas.
Estamos todos
no mesmo barco
Acreditamos que a vida fica melhor quando escancarada (em rede, trabalhamos, viajamos, cozinhamos melhor). Apostamos em falar do coração, com diálogos honestos, em círculos de confiança cada vez maiores, operando com inteligências coletivas, criando mais e mais relações de parceria, sem tantos joguinhos, sem inimigos ou culpados.
Silêncio e compreensão do
mundo interno
Apostamos em bom senso, lucidez, clareza, compreensão do funcionamento da mente, das emoções e das dinâmicas profundas que permeiam todas as áreas da vida, aplicando tal compreensão do nosso mundo interno na educação, na economia, na saúde, na administração de empresas, em todas as nossas relações.
Um lugar para a gente
realmente chegar
Do jeito que nos estruturamos atualmente, as pessoas não param, nunca realmente chegam em algum lugar (o corpo chega, a mente demora). Parece até estranho dizer isso assim, mas é verdade: a gente quase não se encontra mais. Acreditamos no poder de um chá despretensioso, do espaço, da convivência sem programação. Queremos mais segundas casas onde repousar.
Linguagem consensual sobre
o que realmente importa
Em uma cultura de distrações e de entretenimento, precisamos de mais eixos, critérios, filtros e bússolas para ir direto ao que realmente importa. Quanto mais desenvolvermos uma linguagem consensual para falar com profundidade e precisão, mais fácil será reunir pessoas de todos os mundos. Apostamos na atitude de aproveitar qualquer situação como combustível de desenvolvimento. Queremos descobrir como fazer de qualquer lugar o lugar.
Diálogo como prática, embate,
fala de coração
Diante de conversas apressadas e dispersas cheias de “concordo/discordo”, apostamos no diálogo como uma prática consciente, como algo a ser aprendido dedicadamente. Apostamos falar de coração e realmente chegar perto de alguém, em trucar, desafiar e nos colocar em xeque, com todas as visões em cima da mesa. Podemos nos aproximar de inteligências, sabedorias, tecnologias, métodos e ferramentas por meio de pessoas que se engajaram em longos treinamentos ou bateram cabeça em um percurso específico e já têm algo a compartilhar. Quanto maior essa rede, mais fácil de alguém se beneficiar quando colocar os pés no lugar.
“O que eu tenho a oferecer sou eu, o que você tem a oferecer é você, e se você se oferecer com autenticidade e generosidade eu serei movido.”
—Charlie Kaufman
Empoderamento,
responsabilidade, apropriação
É possível aumentar nossa capacidade de nos ajudarmos, nos curarmos, nos enriquecermos como comunidade? Precisamos depender de instituições para isso? Apostamos na experiência em primeira pessoa, no engajamento direto em processos autênticos de treinamento e aprendizado, de desenvolvimento de heurísticas próprias, na educação da mente e do corpo como um projeto pessoal e intransferível de cada um, e como sendo um processo continuado, gradual, para a vida toda.
Felicidade genuína
e qualidades atemporais
Se uma vida significativa não depende tanto de configurações externas, como eu posso me desenvolver com relativa independência das flutuações usuais da vida? Como ativar mais diretamente as qualidades pervasivas que estão por trás do que chamamos de felicidade? Autonomia de ânimo, relaxamento, brilho no olho, sensação de propósito, estabilidade da atenção, flexibilidade, contentamento, alegria, generosidade…
Um lugar
para quem precisa de um lugar
Se você quiser conversar com um amigo fora de casa, onde marcará o encontro – num café, numa praça, num bar? Se quiser oferecer uma prática corporal na qual acabou de se formar, teria de pagar uma locação? Se você quiser sentar em silêncio, depois ver um filme e depois dançar, terá de ir a três lugares diferentes? Apostamos em lugares abertos na cidade, que não sejam apenas cafés, bares, casas noturnas, museus e centros culturais.
Formação horizontal,
Desenvolvimento vertical
As transformações que aspiramos se resumem a dois tipos: horizontal (habilidades nas várias frentes da vida cotidiana: escrever melhor, viajar mais, investir, ser mais culto, aprender isso, melhorar naquilo) e vertical (sabedoria, questões existenciais, liberdade, consciência das dinânicas profundas, qualidades pervasivas que se aplicam a qualquer experiência). Em paralelo a melhorar o sonho, seria bom começarmos a acordar — melhor que um sonho bom é um sonho lúcido.
Linhagem: métodos testados
coletivamente por séculos
Estamos tentando andar sozinhos? Quais as linhagens vivas que, geração após geração, transmitiram até nós métodos detalhados de transformação do corpo, da mente, de nossas relações? Há práticas para cultivar uma atitude melhor assim como treinamos o corpo uma hora por dia? Como podemos testar com ceticismo e subir nos ombros das visões e práticas das grandes tradições de sabedoria e ciência da humanidade?
Todas as situações são
trabalháveis
A seriedade nos deixa pesados, graves, como se tivéssemos certeza sobre o que está acontecendo e sobre quem somos. Em busca de seguranças e garantias, criamos camadas de pose e artificialidade. Sem tanta rigidez, cada momento pode ser recebido com um espírito lúdico, sempre com algum nível de sorriso por trás. Apostamos em não saber, em espontaneidade, leveza, vontade de pegar a vida com as mãos e começar a brincar até mesmo com o pior dos monstros.