Estamos casados com todo mundo
Se nossa casa não acaba na parede da sala e nossa família se prolonga para além daquele primo de terceiro grau, vamos admitir logo: não estamos morando junto com uma ou outra pessoa, estamos casados pra sempre com todo mundo. Com um, implico com a louça suja. Com outro, insisto para que espere eu sair do vagão do metrô antes de ele entrar. É a mesma coisa.
As conexões que fingimos não ter seguem nos atazanando no cotidiano e no silêncio da meditação. Quando temos uma relação torta com alguém, ainda que seja só um traço de desconforto por uma ou outra coisa que um dia a pessoa nos disse, toda vez que a pessoa surge em nosso fluxo mental, sempre que ouvimos seu nome ou vemos sua foto, eis um momento de perturbação. São centenas de pessoas com o poder de nos desequilibrar, ainda que de modo bem sutil, quase imperceptível. Como é que alguém será feliz nessa situação? Não tem como.
Já que estamos casados com todo mundo, qual a melhor relação que podemos cultivar? Para isso, imagine que você coloque duas pessoas juntas numa sala e diga que elas ficarão ali para sempre. No começo, talvez elas se relacionem com um pouco de raiva, depois elas vão experimentar orgulho, sedução, competição, carência, medo, apego, indiferença… Em todas essas relações, elas vão sofrer. O único jeito de uma relação ser sustentável é pelo amor genuíno. Uma hora alguém vai falar: “Eu desisto de querer alguma coisa de você. Que você seja feliz e que eu possa te apoiar em sua vida!”
Estamos cansados porque a todo momento sentimos que devemos fazer coisas diferentes, nos relacionarmos de modos diferentes. Com o marido é uma coisa, com o parceiro de trabalho é outra coisa, com o garçom é outra coisa, com os amigos é outra coisa, com os filhos é algo completamente diferente… Isso faz com que nossa energia circule cada vez de um jeito e que nossa experiência de realidade fique se movendo entre diferentes bolhas. É exaustivo!
Em vez de negar as identidades ou tentar “ser eu mesmo” (como prega a autoajuda), podemos dançar livremente, usando a riqueza de cada papel, mas sabendo que o que faz um bom namorado não é muito diferente do que faz um bom vizinho.
As práticas de equilíbrio, de sabedoria e de compaixão nos levam a uma simplificação: em toda e qualquer relação só há uma coisa a ser feita. Se o outro gritou, gozou, elogiou, xingou, se estamos no primeiro jantar ou no meio do divórcio, se somos mãe, empresária, pedestre, irmão… Não importa: relaxar é sempre a melhor coisa. Não reagir. Não se equilibrar na dependência de condições externas. Sorrir para a seriedade das bolhas e referenciais, atravessar a solidez aparente da situação. E agir com bondade e generosidade pelo benefício de todos. Não há outra coisa a ser praticada, momento a momento. Por que se relacionar de outro modo?
Quer colocar isso em prática?
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