A vida nunca se resolve, mas a iluminação é possível

por Gustavo Gitti

Being there (“Muito além do jardim”, 1979: obra-prima de Hal Ashby e Jerzy Kosinski, com o grande Peter Sellers)

Em tempos difíceis, até quem está bem está mal! Se você fizer tudo certo, o máximo de sucesso que vai conseguir será como o de Elon Musk (CEO da Tesla Motors), que admitiu ter dificuldade de relaxar e dormir.

Diante da intensificação da desigualdade social e da destruição ambiental, cada um de nós oscila entre dois extremos: romantismo e desespero. Talvez agora você esteja empolgado: “O mundo está complicado, mas sou empreendedor, estou apaixonado…” Ou pode ser que esteja sem energia: “Não aguento ver tantas notícias absurdas, meus amigos ativistas estão tomando remédio, não sei o que fazer…” A postura do “vencedor” parece desejável, mas vem cheia de ansiedade, estresse e medo. Tal manutenção sem fim nos deixa atarefados, tentando controlar os inúmeros fatores que condicionam nossa felicidade. Alguns chegam ao ponto de transformar sua vida em uma empresa que precisa de muita narrativa e storytelling. Viramos seres posados. É cansativo!

Um extremo leva ao outro. Nos deprimimos assim que algo colapsa — somos traídos, demitidos ou simplesmente não conseguimos mais dar conta do que construímos. Viramos um “perdedor”. O ciclo se reinicia quando estamos tão frágeis e isolados que logo compramos qualquer solução rápida, alimentando picaretas de autoajuda e corporações que só crescem porque devoram energia de seres humanos. É uma epidemia mundial: correria virando desistência, desistência virando correria.

Há mais de 2500 anos, o Buda previu esse processo sem saída. Já passou da hora de soltarmos a arrogância e ouvirmos os seres extraordinários de nossa família humana. Você é a prova de que a sua estratégia não deu certo. Reconheça sua mente aflita, seu corpo contraído e as atitudes negativas que já normalizou. Reconheça o limite dessa religião customizada cujo mestre você chama de “eu”.

A primeira contemplação que podemos fazer é observar como toda felicidade condicionada inevitavelmente gera sofrimento. Cada solução vira um novo problema. Enquanto estivermos emocionalmente dependentes e autocentrados, vamos nos frustrar.

O segundo convite é para investigarmos as causas mais profundas do sofrimento. Não é o outro que é perturbador: eu é que me perturbo. O melhor dos lugares não traz contentamento se nossa mente não se alegra. Nosso sofrimento não vem de onde parece vir.

O terceiro insight é uma decorrência. Se a causa do sofrimento não é externa, a liberação é possível. Não estamos condenados! Nenhuma emoção se consolida na base da mente. Nenhuma situação está definida. Tudo segue aberto. A maior transformação é a iluminação, a purificação das confusões e a manifestação de qualidades como generosidade, energia autônoma e compaixão.

A quarta descoberta confronta nossa preguiça. Há caminhos para transformar a mente e beneficiar os seres. Você pode ter lido muito sobre ciúme, mas isso não faz nem cócega no funcionamento de seus pulmões, que continuam com a operação emocional de um bebê. Entender não basta. Precisamos nos engajar em métodos poderosos para respirar livre da lista de tarefas, mesmo em meio às tarefas.

Que possamos descobrir a humildade e a curiosidade que vêm de realmente praticar. Os seres ao nosso redor agradecem!

Quer colocar isso em prática?

Se você quiser se juntar a uma comunidade que toda semana experimenta uma prática de transformação: olugar.org