E se hoje fosse meu último dia? – Ven. Tenzin Chogkyi

por Isabella Ianelli

Transcrevemos e traduzimos um trecho do encontro que tivemos com Venerável Tenzin Chogkyi em junho de 2014, no começo da nossa comunidade online. Tenzin Chogkyi é uma monja budista ordenada por S. S. Dalai Lama e há mais de uma década apoia pessoas no processo da morte. No texto abaixo, uma maneira simples e profunda de contemplarmos a morte e uma pergunta para nos fazermos: e se hoje fosse meu último dia? Um dia será.


Existe uma prática budista tradicional de contemplação da morte que pode ser adotada de uma maneira muito fácil por não budistas. São três pontos que nos ajudam a entrar em contato com a realidade e a entrar em sintonia com as coisas do jeito que elas são.

O primeiro ponto dessa prática é meditar que a morte é certa. Nós sabemos disso intelectualmente. Se eu te digo: “Você sabe que vai morrer, não sabe?”, você vai me dizer: “Claro!”. Mas saber intelectualmente é diferente de ter uma sincera e profunda realização da certeza da morte. Então, a primeira parte da meditação é tentar entrar em contato com esse reconhecimento. Nós costumamos dizer que a diferença da compreensão intelectual e da realização é ter um saber mais profundo, não apenas na mente.

A segunda parte da meditação é reconhecer que o tempo da morte é completamente incerto. Quando eu comecei a fazer essa meditação eu percebi que eu tinha uma ideia de que eu ia viver até os 84 anos de idade. De alguma maneira esse número estava na minha cabeça. Mas tudo que eu precisava fazer era pensar nas pessoas da minha vida que morreram antes de mim e que eram mais novas do que eu. Assim, percebemos que não temos ideia e que não há garantias de que vamos viver até a velhice. Nós podemos morrer a qualquer momento.

E o terceiro e último ponto da meditação é realmente pensar que você não pode levar suas posses ao morrer. Você não pode levar seus amigos e familiares. Você não pode nem ao menos levar seu corpo com você no momento da morte! O que você vai ser capaz de levar é o tipo de mente que você tem no momento da morte.

Se você acredita ou não numa próxima vida (nós dizemos que a mente continua), lembre que você está se despedindo de todos os seus amigos e lembre que você não vai ser capaz de levar suas posses. Assim, você vai poder estar no leito da morte pensando: “Estou em paz, porque eu fiz a coisa mais significativa com a minha vida, eu vivi meus sonhos e eu vivi completamente”.

Pode parecer que pensar sobre esses pontos é deprimente, mas na verdade é liberador. Porque nos faz abandonar as coisas que não são importantes e nos faz focar no que importa. E isso também nos faz superar nossos medos sobre não estarmos fazendo a coisa certa. Todas as vezes que pensamos sobre a morte, muitas coisas passam a não ter importância. Nossa vida se torna mais corajosa, mais inspiradora e mais poderosa. Essa tem sido a minha experiência.

Arte de Fábio Rodrigues para o ciclo “Vida e Morte”

Não é o conteúdo a riqueza da nossa comunidade online: a verdadeira riqueza são as práticas que experimentamos juntos. Se você tem interesse em ir além do conhecimento teórico e praticar, aqui uma sugestão que Ven. Tenzin Chogkyi nos ofereceu neste mesmo encontro (e que vamos experimentar juntos, entre tantas outras, no ciclo Vida e Morte):

E se hoje fosse meu último dia?

Quando eu acordo de manhã, um dos meus primeiros pensamentos é: “E se esse fosse meu último dia na Terra, o que eu faria?”. É como fazer uma correção das prioridades todos os dias. Pensar em todos os momentos: se este fosse seu último dia, você passaria ele na cama? Você passaria o dia todo assistindo à televisão? O que você faria se soubesse que hoje é o último dia da sua vida?

Esse é um jeito de constantemente mudarmos nossas prioridades, mas ao invés de ficarmos deprimidos, nos liberarmos de gastar nosso tempo com distrações e entretenimentos. E é um jeito de realmente nos engajarmos, o quanto for possível, no que sentimos que é importante.

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