Flores-de-lótus em meio ao fogo (por Shinshu Roberts)

por Fábio Rodrigues

Shinshu Roberts examina a relação com o sofrimento inerente ao caminho do bodisatva, a que Dogen se referiu como sendo “a flor-de-lótus azul nas chamas”. Publicado originalmente na edição de primavera de 2020 de Buddhadharma: The Practitioner’s Quarterly. Tradução de Nathália Kons e revisão de Fábio Rodrigues.

Em 1243, Eihen Dogen, o fundador do Soto Zen do décimo terceiro século no Japão, escreveu em seu evocativo Kuge (“Flores da Vacuidade”) que “o tempo e o lugar em que as flores-de-lótus azuis desabrocham e propagam-se são no meio do fogo e no momento do fogo” (Gudo Nishijima e Chodo Cross, Master Dogen’s Shobogenzo).

Dogen viveu num tempo de incerteza política, violência climática e mudanças culturais. Talvez essas dificuldades tenham inspirado Dogen a assumir a imagem poética da flor-de-lótus azul — associada à prática-realização — que desabrocha em meio ao fogo do samsara.

“Fogo interior”, pintura de Fábio Rodrigues

Muitas vezes pensamos que nossa prática requer deixarmos para trás ou transcender nossas dificuldades. Ainda que o desabrochar da flor-de-lótus azul , representando um bodisatva desperto, dependa do fogo para florir. A flor-de-lótus azul (Skt., utpala) simboliza ambos sabedoria (associada a Manjushri) e compaixão (um atributo de Avalokiteshvara). A maioria de nós está familiarizado com a imagem da flor-de-lótus na água lamacenta, o que essencialmente aponta para a mesma coisa. Mas aqui temos uma poderosa imagem dinâmica: fogo e resposta.

Nós podemos entender logicamente que sem sofrimento não haveria necessidade de compaixão, sabedoria e os meios hábeis da prática bodisatva. Este é um ensinamento difícil. Ele requer que nós fiquemos e investiguemos, algo que é problemático e inconveniente em nosso mundo. Ainda assim, e apenas sob essas circunstâncias que nossa própria natureza búdica pode desabrochar e gerar o pleno florescimento da realização. De novo e de novo, renovamos nosso voto de bodisatva em meio a esta vida samsárica. Quem mais poderia realizar essa prática a não ser nós mesmos?

Sempre que encontrarmos uma difícil situação, relacionamento ou opinião contrária, temos de confiar em nosso voto para encorajar e beneficiar todos os seres. Antes que esse voto se forme, no entanto, devemos primeiramente definir para nós mesmos com o que nos importamos mais. Meu professor uma vez me perguntou, “Qual seu mais profundo desejo para sua prática?” Eu respondi, “Ser compassiva”. Esse não foi um desejo abstrato, como se quisesse espalhar um pó mágico de bondade. Ele brotou de um senso do meu próprio fracasso abjeto em lidar com a raiva. Embora meu voto de desenvolver compaixão parecesse universal em sua superfície, ele refletia um profundo desejo de conectar-se com minha raiva e transformá-la. Cada um de nós deve encontrar um voto que se comunique com nossas necessidades específicas Quando fazemos isso, evocamos nossas intenções profundas, que irão nos encorajar a sentar em meio ao fogo de nossas próprias dificuldades e agir em resposta ao nosso desejo interior individual de praticar este voto neste momento.

Podemos começar a entender como fazer isso lembrando que é somente dentro do contexto de nossas dificuldades que nós despertamos. Se não fosse assim, não teríamos motivo algum para despertar, para praticar meios hábeis ou beneficiar e apoiar uns aos outros.

Dogen escreveu mais adiante em Kuge que “todas as fagulhas e chamas existem no lugar e no tempo em que a flor-de-lótus azul desabrocha e espalha-se. Fora do tempo e do lugar das flores-de-lótus azul, nem uma única centelha nasce e nem uma centelha sequer tem vida fulgurante.” Em cada momento que lembramos de colocar em prática nosso mais profundo desejo de ajudar, uma centelha nasce. Começando com a menor das centelhas, nossa vida de bodisatva floresce, tornando-se um fogo que ilumina nossa compreensão. Inicialmente, nossa centelha pode ser fugaz, mas sua fonte é a natureza búdica universal, a qual nutre nosso esforço e sustenta nosso voto de bodisatva. Nós acendemos o combustível do desejo compassivo do bodisatva, que em troca alimenta a chama da transformação alquímica. Em meio ao samsara, fazemos o esforço de transformar o minério bruto da delusão em ouro.

No entanto, isso é impossível de acontecer, a não ser que estejamos dispostos a permanecer firmes em face de nossas dificuldades. Isso pode ser desconfortável. Mas como Dogen escreveu, esta prática “existe no lugar e no tempo” do florescimento e do espalhamento da compreensão — que é exatamente aqui e exatamente agora. Que outro tempo ou lugar nos dá a oportunidade de praticar? O presente momento é a imediatez e a intimidade de cada atividade de nossa vida. Nada é deixado fora. Nenhum momento ou ação é descartável.

Colocar isso em prática é trabalho duro. Enredados em nossos desejos e medos, é difícil colocar sabedoria e compaixão em ação. Ainda assim, que outra vida temos? Qual outra aspiração deveríamos ter a não ser a de beneficiar todos seres?

Nossa vida neste mundo samsárico é exercida no campo búdico particular de Shakyamuni. É apenas dentro deste contexto que aprendemos como responder às aflições de nossas mentes delusivas. No Sutra de Vimalakirti, Vimalakirti, um proeminente seguidor leigo do Buda, reconhecido como um bodisatva, envia um mensageiro para a terra de um Buda chamado Acumulação de Fragrâncias. Nesse campo búdico, tudo cheira maravilhosamente bem. De fato, todos que percebem o aroma diretamente recebem os ensinamentos e despertam. Nesse mundo, por que tudo que se precisa é um pequeno sopro de perfume, os praticantes não precisam de muito esforço para atingir a realização.

Vimalakirti envia seu representante para pedir que as sobras das refeições nessa terra sejam magicamente transportadas de volta ao nosso mundo — essencialmente, um almoço de viagem de volta pra casa para os alunos de Vimalakirti. O bodisatva explica que ele é do mundo saha (Jpn., shaba) do Buda Shakyamuni, o reino dos seres humanos. O Buda Acumulação de Fragrâncias então descreve para sua assembléia o inviável trabalho de Shakyamuni de curar uma era corrompida e despertar aqueles que vivem em um tempo e lugar tão difíceis.

Os alunos de Acumulação de Fragrâncias ficam intrigados com esse incrível e exótico lugar, e pedem para  visitar o mundo saha. Acumulação de Fragrâncias adverte seus seguidores a não serem arrogantes quando forem. Ele diz a eles que deixem seus corpos de fragrância e assumam uma aparência mais humana.

Ao chegarem, os bodisatvas da Terra das Fragrâncias ficam chocados pelo estado de degeneração do mundo saha do Buda. “O que está havendo?”, eles perguntam a Vimalakirti. Eles se questionam, esta é realmente a terra do buda Shakyamuni? Não se parece nada com o campo búdico de Acumulação de Fragrâncias, seu lar. Vimalakirti conta a eles que no mundo saha as pessoas são ignorantes, teimosas, difíceis de ensinar, e tolas. Além disso, elas se envolvem em mentiras e calúnias, e são gananciosas, ciumentas e raivosas. “Oh céus!”, exclamam os bodisatvas escandalizados.

Mas Vimalakirti continua a explicar que são essas mesmas características que trazem à tona todas as qualidades dos alunos de Shakyamuni. Shakiamuni, ele conta a eles, tem de tomar uma postura bastante contundente e rigorosa para alcançar seus discípulos, mas essa prática resulta em compaixão, sabedoria e meios hábeis. Uma vez despertos, esses bodisatvas ficam firmes em seus votos e fazem grande esforço para realizar seus meios compassivos. Quando confrontados com os carentes, respondem com generosidade. Quando confrontados com o mal, respondem com moralidade. Em face da raiva, são pacientes; em face da tolice, respondem com sabedoria. As respostas desses bodisatvas ao sofrimento os fazem fortes na prática, comprometidos com a compaixão, e sábios em sua habilidade de sentar-se em meio ao samsara. Eles são flores-de-lótus azuis desabrochando em chamas.

Nós somos os mesmos bodisatvas, nós também florescemos em chamas. Sem o fogo, o desabrochar não pode acontecer — sem dificuldade, não conseguimos responder com ação realizada. Esta é a bênção, a generosidade e a maravilha do mundo saha do Buda Shakyamuni.

No Eihei Koroku (Dogen’s Extensive Record) Dogen escreveu, “Uma flor-de-lótus em chamas significa a prática em meio aos desejos mudamos… [uma flor-de-lótus azul] desabrochando… é mais uma imagem para algo raro e precioso, como a transmissão da verdadeira prática” (Taigen Leighton e Shohaku Okumura, Dogen’s Extensive Record). É de fato raro e precioso quando podemos expressar e transmitir a verdadeira prática em nossas vidas cotidianas. Mas agora, em meio a essa turbulência política e social, esse é o nosso mandato. Cada resposta hábil de nossa parte é “a transmissão da verdadeira prática”.

A flor-de-lótus desabrochando é simultaneamente o bodisatva apoiando o mundo e o mundo inteiro vindo para apoiar o bodisatva. Um ensinamento primário de Dogen é o de que não praticamos sozinhos — somos dependentes dos esforços de todo ser e coisa, dessa forma somos apoiados de maneiras que não conseguimos ver ou saber. O mundo ao redor está fazendo seu esforço para se encontrar com o nosso, assim como nós estamos respondendo a esse esforço. Estamos juntos nisso com todos os seres através do tempo e espaço, criando o mundo. Em Uji (“tempo-existência”), Dogen descreveu essa mutualidade como “o mundo mundando o mundo”.

Embora possamos nos sentir sozinhos, nós temos muitos aliados — e não somente outras pessoas, mas também as árvores, animais, insetos e todos os seres. Como Dogen escreve em Bussho (“Natureza de Buda”), todas as coisas, ocultas ou aparentes, são sencientes e estão no ato de presentificação conosco, e nós com elas. É o esforço de todos os seres que possibilita que nosso mundo chegue a ser. É também o esforço de trazer à tona a ação iluminada. Esta cooperação altruística é o mundo mundando o mundo.

Como bodisatvas que sentam-se em meio ao fogo, essa mundação é nossa prática. Pode não parecer, ao presenciarmos destruição ambiental e distopias governamentais, que o mundo todo está fazendo o esforço junto conosco. No entanto, devemos fazer o nosso melhor para não sermos desencorajados ou derrotados. Às vezes isto requer um salto de fé. É da natureza do mundo Shakyamuni que nos encontremos assediados por problemas. Não é esta a razão dos nossos esforços? Não é este o porquê de trazermos prática-realização à tona? Cada um de nós deve se perguntar:  como posso responder com equanimidade, sabedoria e compaixão em qualquer situação? Podemos encontrar força para responder ao chamado da prática-realização através dos votos e da sanga. Por esta razão, devemos nos cercar de pessoas que compartilham nosso interesse em encontrar meios pacíficos e inclusivos para desenredar a acridez de nossos tempos.

Símbolo pictográfico ancestral que deu origem ao ideograma 生, que significa “vida”, pintura de Fábio Rodrigues

Sugiro desistirmos da ideia de que seremos capazes de apagar esse fogo. Se achamos que podemos mudar o mundo de uma vez por todas, temo que estejamos prestes a ter desilusão, frustração e raiva. Nós somos o fogo, o fogo somos nós. Nós somos a flor-de-lótus azul, a flor-de-lótus azul somos nós. O fogo e a flor-de-lótus azul são nossa prática e nossa realização. São o “tempo e o lugar”. Nós nascemos no campo búdico de Shakyamuni — as circunstâncias podem mudar, mas este mundo saha continuará se desenrolando, com todas as suas imperfeições.

Nossos esforços então devem incluir o zazen tanto em cima como fora da almofada. Sentamos formalmente no zazen sobre-a-almofada pois essa é a atividade do buda sentado em meio à vida. Nos sentamos sinceramente, fazendo esforço e simultaneamente aceitando e relaxando naquilo que é. Fazemos o melhor para continuarmos voltando a este momento, a este mundo como ele é agora mesmo. Nossa instrução é “apenas sentar” em meio ao que é. Isto significa escutar os pássaros, escutar os carros passando na estrada, e às vezes experienciar o silêncio. No entanto, apesar do que ouvimos fora ou do que ouvimos dentro (nossas mentes), continuamos a voltar, pacientemente, constantemente e compassivamente. Nós praticamos nossos votos de não sermos pegos por julgamento e desânimo (ou euforia). Em vez disso, nos presentificamos através da atividade do zazen, ativamente escutando a voz da vida.

Zazen, no entanto, é mais do que apenas a atividade formal de sentar-se em meditação. É também a incorporação de nossa interconexão. Este é o zazen como sendo nosso cotidiano, de estar no mundo de harmonia e discórdia. Não sabemos todos nós como é se irritar com alguém dirigindo mal, e a alegria de receber a compaixão de outra pessoa em relação aos nossos próprios erros? O zazen, seja na almofada ou mundo afora, não é uma atividade passiva. Zazen é dar e receber da intimidade da vida, que muitas vezes pode exigir muito esforço de nossa parte. Como posso praticar paciência agora se estou com tanta raiva? Eu consigo enfrentar meu medo e frustração? É possível ouvir alguém de quem discordo totalmente e, ainda assim, sentir empatia por suas dificuldades? Como podemos achar um chão em comum enquanto não compartilhamos uma visão de mundo similar? Todas estas questões são a centelha e o fogo de nosso voto de bodisatva.

Em nossas vidas cotidianas, às vezes nos encontramos em situações que nos convidam a deixar de lado nossos próprios gostos e desgotos, e a levar em conta as necessidades de outra pessoa. Gostos e desgostos não são inerentemente problemáticos — o problema é que eles também podem interferir facilmente em nossa habilidade em encontrar a totalidade de uma situação e responder de forma inclusiva, em vez de autocentrada.

Vamos dizer que um amigo o convida para jantar e serve uma comida da qual você não gosta. Talvez seja tofu. Você não é alérgico, mas você realmente não gosta. O que você faz? Você diz, “Ei, eu detesto tofu! Por que você não me perguntou antes de vir? Não vou comer isso!”. Ou, você come tofu o suficiente para satisfazer desejo de seu anfitrião em fazer algo agradável para você? A maioria de nós faria o último porque fomos ensinados a sermos educados, e ser educado significa que, quando somos convidados, fazemos coisas que não necessariamente gostamos, ou comemos coisas que não necessariamente gostamos. Isto também é prática. É a prática de permitir a situação ditar nossa resposta. É a prática do não-eu, e isto, também, é sentar em meio ao fogo do samsara.

Num contexto mais amplo, por que nosso estado natural é a natureza de buda, entendemos que a prática não é separada do mundo, mas fundamentada na participação no mundo. Esta participação requer que  nos encontremos com o mundo como ele é. Nosso voto bodisatva nos encoraja a responder como colaboradores com tod e qualquer tipo de entidade, pois entendemos que somos uma família que precisa de sustento e respeito. Nós sabemos e aceitamos que a ceia de Natal com nossa família pode ser um evento estridente e intenso.

Estar disposto a sentar em meio ao fogo nesse banquete é a expressão de nossa realização. É, como Dogen coloca, a digna atividade de um buda, e é ao mesmo tempo a prática e a realização reunidos em uma só atuação. É a flor-de-lótus azul desabrochando no fogo, despertando a verdadeira função do bodisatva no mundo. Nossa esperança é de que nossa prática bodisatva seja forte o suficiente para responder em meio desse fogo.

Ainda assim, há algo em nós que quer rejeitar esse fogo, queremos escapar desse mundo desconfortável e cobrir nossas cabeças com as cobertas. Dogen escreveu em Shoji (“Nascimento e Morte”), “Aqueles que querem se tornar livres de nascimento e morte deveriam entender o significado destas palavras. Se você procurar um buda fora de nascimento e  morte, será como tentar ir para a região de Yue, no sul, apontando sua lança para o o norte… Apenas entenda que nascimento-e-morte é em si o nirvana” (Kazuaki Tanahashi, A Lua Numa Gota de Orvalho).

Talvez nós lamentemos com as implicações deste ensinamento. Não podemos escapar do sofrimento transcendendo ou saindo deste mundo, metaforicamente ou de qualquer outra forma. É difícil acreditar que esta vida mesma é o nirvana. No entanto, não podemos desviar o olhar. Se o fizermos, nos distanciamos cada vez mais da verdade do Buda. Se desviarmos o olhar, fugirmos ou nos escondermos, não há como experienciar o nirvana. O nirvana pode apenas ser encontrado em meio ao fogo, em meio ao nascimento e morte. Além disso, o tal “nirvana” provavelmente não é esse mundo sem conflito e sem sofrimento pelo qual desejamos.

Podemos entrar no nirvana apenas através do portão chamado nascimento e morte, a nossa vida de problemas. Achamos que a saída para nossos problemas é esmagá-los, ignorá-los ou fugir deles, mas Dogen diz que não funciona desta forma. A única maneira de transformar nossos problemas em realização é por meio do envolvimento com o próprio problema.

Ensō (círculo Zen) da série “Vida inteira”, pintura de Fábio Rodrigues

À medida que nosso entendimento se aprofunda, ficar deixa de ser um problema. Continuamos a ficar pois somos a flor-de-lótus azul desperta, agora florescendo no fogo deste mundo samsárico. Agora há nirvana-de-nascimento-e-morte. Nos encontramos com nossa vida e somos afirmados por ela. Praticamos esse processo repetidas vezes, pois cada situação ou encontro é sempre novo. A cada vez, ficamos mais habilidosos.

Como se diz que Shunryu Suzuki Roshi ensinou, “Cada um de vocês é perfeito do jeito que é… E vocês podem dar uma melhoradinha!”. É isso, momento após momento. Você e todos os seres são natureza búdica — e ainda há trabalho a ser feito. Como é isso no chão? Dogen escreveu em Kajo (“Vida Cotidiana”) que tomar chá e comer arroz é exatamente a atividade dos budas ancestrais. É a atividade cotidiana de cuidar dos afazeres. É nossa vida comum: ir ao mercado, preparar e comer refeições, é dirigir seu carro e criar seus filhos. Esse é o poder místico do bodisatva. Não é nada muito sexy, nada especial. No entanto, esse é o exato lugar, o exato fogo onde as flores-de-lótus azuis desabrocham e funcionam.

Se considerarmos a questão da ecologia, isto significa que respondemos ao que podemos fazer e que está bem à nossa frente. Paramos de usar plásticos descartáveis, reciclamos, procuramos todas as maneiras de modificar nossas próprias ações, de forma que elas ajudem. Damos dinheiro ou tempo, se podemos, para organizações que operem em um campo mais amplo que o nosso. Nós votamos e mantemos o curso. Temos uma conversa difícil com um vizinho que não compartilha nossas crenças. E continuamos, mesmo lendo que talvez essa seja uma causa perdida. Isto é o zazen enquanto ação. Estes são nossos votos de bodisatva exercidos. O mundo saha é nosso zendo. Nossa vida é a almofada. No fundo, o que devemos nos perguntar é “O que ou quem eu serei?”. Estou me esforçando para ser a flor-de-lótus que desperta no fogo do mundo saha, capaz de responder com equanimidade, sabedoria e meios hábeis, ou sou uma pessoa raivosa, polarizada, perturbada, fatalística e temerosa? Posso encontrar estabilidade em um mundo de problemas enquanto trabalho com minhas próprias dificuldades e as transformo?

Não sabemos o que acontecerá com nosso mundo. Olhando para trás, vemos que a condição humana foi continuamente assolada por intolerância, ignorância, ganância e discriminação. Ela também tem sido resgatada da beira do caos por respostas sãs e equilibradas de pessoas e grupos dedicados a uma vida que é inclusiva e interconectada. Esta é a resposta da flor-de-lótus temperada pelo fogo, nascida no fogo. Dogen diria, “Você deveria considerar profundamente o significado de uma flor-de-lótus azul no fogo.” Este é nosso koan, nossa prática cotidiana. Este é nosso voto de bodisatva incorporado.

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