Quatro pontos cegos de nossa cultura (vídeo e transcrição)
No ano passado fui convidado pelo querido Rodrigo Vieira da Cunha para uma fala curta no LiveTalks. Admirei sua coragem, pois essas visões são meio dissonantes no ambiente da publicidade. Não sabia direito o que dizer, mas na hora acabei fazendo uma contemplação rápida com base no primeiro ensinamento do Buda, há cerca de 2500 anos, sobre as quatro realidades percebidas pelos seres lúcidos — popularmente traduzido como “as quatro nobres verdades”. Mais precisamente, falei sobre o que nos impede de gerar interesse por algo como as quatro nobres verdades: nossa cultura posada, resolvedora, niilista e teórica.
Dias depois, um querido amigo e praticante budista, Alexandre Yugo Okamoto, cuidadosamente transcreveu e me enviou. Compartilho agora com o desejo de que possamos juntos superar esses obscurecimentos e começar a realmente dissolver as causas do sofrimento, tanto internamente quanto socialmente. (Se você quiser uma contemplação similar e um pouco mais detalhada, sugiro baixar o áudio dessa palestra que ofereci no CEBB Porto Alegre: “Para aproveitar o sofrimento nas relações” ↓)
Sentar em silêncio para sentar melhor em roda
Eu acho muito bonito a gente estar aqui reunido. Por trás de todas as falas e um pouco do que eu sinto do movimento de vocês, ainda que vocês não estejam falando aqui, tem um processo de reapropriação da nossa vida, do nosso tempo. É como se a gente começasse a perceber que a nossa vida está sendo roubada de nós. A nossa mente está sendo loteada. Quando a gente viu, a gente passou um dia inteiro conversando sobre coisas que não importam enfim. Alguém falou alguma coisa, passou alguma coisa na internet…
Então, é muito, muito importante esse processo de a gente parar e também a gente se reunir, sentar em roda, sentar mais e mais em roda do modo como for possível para nós. Então, quando a gente senta em roda, a gente começa a falar “Será que a gente precisa trabalhar tanto? Como a gente está nascendo? Será que a gente precisa de tanta cesária ou a gente consegue resgatar o poder de a gente mesmo saber parir como humanidade, em vez de a gente só terceirizar isso? Como a gente está morrendo? Se a gente não faz nada para morrer melhor a gente morre segunda a lógica de um hospital. Como é que a gente está casando? Como a gente está fazendo cada coisa que a gente faz. Assim conseguimos, a partir dessa parada, construir uma coisa mais interessante para nós mesmos.
Só que é muito interessante: quando a gente senta em roda é quase como que a gente… vocês já viram? A nossa humanidade atual é nova, né? Todo mundo que construiu as estruturas que estão fazendo um pouco do nosso sofrimento hoje em dia já morreu. Mas ainda assim a gente reproduz. Sem querer, estamos reproduzindo várias estruturas que nós mesmos estamos criticando. É interessante… A gente senta em roda e tem alguns enganos que fazem a gente demorar muito tempo para a transformação ocorrer.
Então, eu pensei de a gente falar sobre alguns desses enganos que eu vou chamar de pontos cegos da nossa cultura. São coisas que a gente não está vendo direito e está complicando a nossa busca por felicidade. Então, se vocês quiserem entender direito por que vocês vieram aqui — um conseguiu de graça, outro pagou, outro não sei o que—, mas se vocês realmente olharem o que vocês estão fazendo aqui, vocês vão chegar em uma coisa que nos une: nós estamos buscando a felicidade. Seja lá qual o nome que eu chame isso ou que eu faça uma cara de que não estou buscando a felicidade agora, uma cara de durão, mas na real a gente está.
Então, a gente está tendo conversas muito, muito, muito complexas, conversas que às vezes nos separam, e a gente esquece de ter essa conversa bem próxima. Seria quase como se aproximar da pessoa e falar: “Como você tá no caminho de ser feliz? E como que eu estou?” Se a gente parte daí, nós somos todos juntos, nós estamos todos no mesmo chão, porém, se a gente perder esse fio, a gente perde conexão.
Então, nós somos essencialmente desconectados hoje, nós estamos sem intimidade com a nossa própria mente, a gente não está parando nunca e a gente está sem intimidade com a vida dos outros. Então, eu pensei de a gente ver o que está por trás disso. Por que a gente é tão comandado e facilmente manipulado? É porque a gente está sozinho e a gente não está entendendo como é que a gente mesmo opera, nossa própria mente. Porque a gente terceiriza, a gente vê na revista: “Surgiu o hormônio do amor” ou “Seu cérebro funciona assim”, e a gente compra. Por quê? Porque eu nunca parei para ver como que a minha mente funciona. Daí dizem como meu cérebro funciona e eu compro.
A gente compra publicidade, pessoal! A gente está vendido! A gente sai por aí com uma mente distraída, entende? Daí a gente compra. Quando a gente viu a gente comprou aquele objeto, aquilo lá. A gente precisa direcionar a própria atenção. Não só sentar em rede, mas sentar parado. Não só sentar em roda, mas parar.
Esse processo eu tenho visto… Eu vou listar para vocês quatro pontos cegos que nos impedem de ter uma clareza sobre a felicidade.
O primeiro ponto cego: a mente posada e romântica não vê a realidade do sofrimento
O primeiro deles é a gente ignorar, por repetidas vezes, o sofrimento da felicidade condicionada. É quase como se a gente dissesse uns para os outros assim: “Vai que vai dar certo! Vai namorar! Vai fazer sua pós! Vai trabalhar! Vai que vai dar certo! Vai dar certo!” Essa é a voz, o sussurro. Daí a gente ignora o quê? Que não dá! Vocês encontrem as pessoas, não tem ninguém bem. Vocês encontrem os vencedores, conversem com os vencedores. Eles estão mal, os vencedores estão mal. Então você quer entrar naquele mesmo jogo para ganhar aquele mesmo jogo e ficar com a cara que ele está? Ele está mal! Está cheio de tique, com a mente completamente desatenta, autocentrada, ainda egoísta.
Então, a primeira coisa que a gente precisa fazer é entrar em contato com o sofrimento, nosso e ao redor. Assim, a gente tira o primeiro ponto cego. Por quê? Porque está todo mundo posado, entende? “Oi, eu sou o Gustavo, palestrante do Livetalk.” Aí bota um cracházinho… A gente está posado. Quando a gente não entra em contato com o nosso sofrimento a gente fica posado. Quando a gente entra em contato, quando tem uma grande crise, a gente fica humilde. Então, é melhor ser perdedor, pessoal. Melhor ser perdedor. Perdedores nós somos todos iguais, todos abertos. Você fala para um perdedor ler um livro, ele lê. Você fala para um ganhador ler um livro, ele bota na estante dele. Então vamos ser perdedores, vamos entrar em contato com o nosso sofrimento. Ninguém está bem.
Quando a gente entra em contato e faz ciência do próprio sofrimento, a gente vai perceber o seguinte: o que eu chamo de meu sofrimento não é meu. Estamos sofrendo uma epidemia de ansiedade, uma epidemia de correria. Não sou eu que estou correndo, não é problema meu. Mas qual é a sacanagem que a gente faz com as pessoas? A gente pega um problema que é cultural, todo mundo ansioso, todo mundo distraído, todo mundo autocentrado, e fala que é um problema da pessoa. “Você vá se ajustar! Você está com ansiedade.” Então, pessoal, não falem isso. Não achem que o outro é ansioso e falem isso: “Eu sou ansioso”. Se não você vai para o ajuste. Você vai tomar remédio, você tem que fazer terapia, tudo isolado, no submundo. “Vá para o submundo. Vá fazer uma massagem. Vá para um lugar que não é aqui.”
Nós estamos às vezes em vinte pessoas e como é que a gente não se ajuda?! “Não… Você vá para outro lugar para te ouvirem, porque nossa comunidade não vai te ouvir. Você vá se ajustar porque você errou.” Então, as pessoas além de sofrer, sofrem e acham que erraram. Então, vamos nos aliviar, pessoal! Casamento não dá felicidade. Vai dar errado, entende? Então quando der errado é um alívio, você não fez nada errado, é isso mesmo!
Então, a primeira coisa que a gente precisa fazer é soltar a pose, entrar em contato com o sofrimento e a gente vai despessoalizar, entender que o sofrimento é coletivo. Daí a gente vai querer, ao invés de só se ajustar e querer resolver a minha vidinha — resolver a minha vidinha é fácil… entrem em uma bolha, mudem, façam alguma coisa aí, contem uma história de sucesso, vai, vai, vai e pronto —, a gente precisa resolver um problema coletivo, entende? Daí a gente vai mudar o jeito que a gente está operando no mundo. Só de a gente ter contato com o sofrimento em vocês e ao redor vocês superam a necessidade de ter que encontrar o próprio propósito. Vocês não precisam mais disso. Porque o mundo está queimando! Ou você vai fazer um workshop de fim de semana para encontrar o próprio proprósito, entende? Proprósito [sic]… É isso, é um negócio que nem faz sentido… Vocês só olhem ao redor! Só olhem ao redor! Tem um monte de sofrimento ao redor.
Então, a segunda coisa que a gente precisaria superar, um ponto cego — o primeiro é isso: a gente não está vendo o sofrimento. Como diz a Eliane Brum, estamos correndo e exautos. Por quê? Porque a gente não está sentindo, nós estamos dopados. Vocês contemplem a quantidade de pessoas tomando remédios ao redor de vocês. Todo mundo aqui com a cara boa, né? Pergunte como é que está… Todo mundo sofrendo.
O segundo ponto cego: a mente resolvedora não vê a causa mais profunda do sofrimento
Segunda coisa: a gente não tem clareza das causas do sofrimento, a gente não tem clareza alguma. Nós somos uma cultura de especialistas em soluções. Ninguém sabe qual é o nosso problema, mas a gente sabe mil soluções. Como acordar melhor? Tem que acordar antes das 8, porque aí você fez tudo o que você precisa fazer antes das oito e quando você olha o outro o outro está começando a acordar. Daí você já acorda como um vencedor. Pega esse aplicativo aqui. Quer dormir melhor? Veja essa palestra do TED. Quer comer melhor? Faça isso… Então, a gente coleciona soluções. A gente fica trocando de soluções.
As pessoas estão desesperadas. Se você falar para elas assim: “Tome um pouco de limão ao acordar”, a pessoa topa, ela está mal! Entende? “Coma sete folhas de alface.” É um pouco por isso que a publicidade funciona. Porque a gente está vendido, a gente está desesperado, sofrendo! Então qualquer que seja a coisa… É um carro? Então, tá bom, é isso… “Abra a felicidade!”, né? Um pouco assim. Já que eu não tenho a visão de por que eu estou sofrendo, então eu vou abrir o refrigerante da felicidade, vou comprar aquilo.
A gente precisar ir além da noção de soluções. Cada solução que a gente acha vira um problema, pode ver. A gente fica o tempo inteiro resolvendo a vida. A gente transforma tudo em lista de tarefas. E a vida, a vida nunca se resolve. Então, como que a gente vai ser feliz num mundo que nunca se resolve? Como é que a gente vai ajudar os outros num mundo que nunca se resolve?
Quando não conseguimos resolver, reprimimos. “Aguenta o tranco aí.” Ou, quando não conseguimos aguentar o tranco, ressignificamos. Eu preciso de palestras, livros, histórias de sucesso para ressignificar minha vida. Preciso ressignificar, ressignificar, ressignificar… trocar de paradigma. Todo mundo trocando de paradigma quase uma vez por dia. Não leva a lugar nenhum isso. A gente já fez isso várias vezes e olha a nossa cara agora. A gente está ainda vendo uma palestra, entende? Tem um limite. A gente precisa descobrir a causa mais profunda do sofrimento.
Então, a gente vai começar a ver que a causa mais profunda do sofrimento não é externa. Não é que o outro fez isso ou aquilo. Ela é muito mais interna, é o fato de a minha mente estar de um jeito ou de outro. Eu começo a descobrir que eu tenho uma mente, eu tenho um mundo interno. Então, muito mais interessante do que fazer qualquer coisa que seja na vida de vocês, é se perguntar “Com qual mente eu estou?”.
Porque se eu estiver com a mente distraída eu posso ir ao melhor dos lugares, mas eu estarei distraído. Se eu estiver autocentrado, eu posso ter a melhor das fortunas, mas meu peito está fechado, eu estou só vivendo a minha vidinha a partir do meu umbigo, tendo relações utilitárias, olhando todo mundo a partir de mim mesmo.
Se minha energia estiver condicionada, eu dou poder para todas as coisas atuarem como um voodoo em mim. Eu dou poder para minha esposa: se ela falar qualquer coisa no WhatsApp, eu passo mal. Se uma reunião de negócios não dá certo, eu passo mal. A minha conta bancária vai flutuando e eu vou flutuando junto. A gente está assim. A gente está respirando com várias coisas que estão nos inflando e desinflando os pulmões. Nossa felicidade está condicionada.
É muito importante entender: não tem como controlar as situações externas e fazer dar certo. E, se a gente vai tentar fazer isso, a gente não faz isso pra todo mundo, a gente busca uma felicidade que dá para compartilhar com poucos. Listem o que faz vocês felizes hoje. Vai ser exatamente o que fará vocês miseráveis daqui um tempo. Esse jeito de operar vai levar a muito consumismo, vai levar a um desequilíbrio ambiental — e eu não consigo oferecer essa felicidade para muita gente. Então, a gente está em uma situação bem complicada.
O terceiro ponto cego: a mente niilista não vê a possibilidade da liberação
Eis o terceiro ponto cego da nossa cultura: a gente não acha que a felicidade genuína é possível. Acreditamos que vamos, no máximo, entorpecer um pouco o sofrimento. Quem aqui acha que ainda nessa vida é possível superar a raiva? Superar o orgulho, superar o ciúme, e viver de um modo muito, muito, muito, muito estável e feliz? Se vocês forem bem sinceros vocês vão falar: “Olha, no máximo, no final da vida, eu vou ser uma versão melhor de mim mesmo.” Nós estamos em uma cultura niilista.
Tem um amigo de vocês que é assim: “Quando acabar essa palestra aí sobre felicidade genuína, vamos tomar uma cerveja. Por que a vida é isso, né? Não existe isso de bondade pura ou bem-estar não condicionado…” Como a gente não tem uma aspiração de uma felicidade muito grande, muito possível para todos, a gente meio que desistiu, a gente se fecha em pequenas bolhas e diz: “Não vou mudar o mundo… Isso aí eu queria quando eu era hippie. Agora vou mudar só a minha bolhazinha. Pelo menos a minha família, meus amigos.” Aí eu construo uma bolhazinha. A gente é muito niilista. Trocamos um potencial infinito de florescimento por migalhas de felicidade. A gente fica vendo likes, a gente fica vendo a nossa carreira. Eu aposto no casamento, aquilo dá errado e eu falo “Casamento não serve pra nada”. Depois eu aposto tudo no trabalho, aquilo dá errado… E eu vou gerando quase que como um niilismo, uma sensação de que não tem sentido a vida. Por isso que tantas pessoas estão se matando. A gente não está oferecendo sentido coletivo uns para os outros, vocês entendem? A pessoa não se mata por um problema dela. É assim ó: quem ao redor dela estava dando sentido para ela? Falando que a vida tem sentido? A gente mal consegue dar sentido para a nossa vida. Então, no nosso olhar, nós não estamos oferecendo sentidos uns para os outros.
Uma pessoa que anda na rua com a possibilidade da liberação do sofrimento, com a possibilidade da felicidade genuína, vindo do próprio treino da mente, ela anda já feliz. Só que a gente não está assim. A gente anda com olhar de metrô: a gente já saiu e ainda não chegou. Veja se as pessoas são felizes no metrô. Ninguém é muito feliz.
O quarto ponto cego: a mente teórica não vê a possibilidade de praticar aquilo que já entendemos
Tem o primeiro ponto cego de não olhar para o sofrimento; tem o de não olhar para as causas do sofrimento (só remendamos, remendos atrás de remendos); tem o de não achar que é possível liberar o sofrimento (a gente não confia no nosso próprio potencial de florescimento humano)… E o quarto ponto cego é que nós não achamos que tem práticas pra isso, nós ignoramos a possibilidade de praticar amor e compaixão, por exemplo.
Nós somos uma cultura do oba-oba da transformação. A gente vem aqui brindar “Nossa! É possível mudar o mundo!”, mas a gente não faz o trabalho sujo na nossa mente. Todo mundo aqui está reproduzindo uma cultura que é mortal: a gente acha que tem pessoas negativas em algum lugar e a gente é super bom. A gente precisaria fazer o trabalho sujo. A nossa mente está fedendo. A gente está com uma mente dependente das condições externas, a gente está jogando jogos, transformando a vida em jogos que eu quero ganhar — por isso que a gente tem repetidos fracassos — a gente está autocentrado, a gente está olhando todas as coisas a partir do nosso umbigo, a gente está sempre querendo ganhar a nossa vidinha. Daí vão surgir crises sem parar. A gente não está olhando para os outros.
Então, a gente precisaria treinar uma mente mais estável. Essa mente é útil. Se a mente de vocês for distraída, vocês levam essa mente distraída para tudo quanto é lugar… A gente é inútil! A gente precisaria de uma mente parada, estável, que oferece tempo para o outro, atenção para o outro. Só isso já salva uma comunidade: introduzir atenção, tempo, espaço. Dar atenção para o outro.
A gente precisaria ter uma energia mais autônoma. Se vocês quiserem uma energia autônoma, vocês tenham compaixão. Compaixão é assim: quando tudo desaba, vocês têm energia. Como a do médico, o médico não foge quando está todo mundo doente. Então, se vocês tiverem compaixão, vocês não vão oscilar, porque quando tudo desabar vocês vão falar “Agora eu posso ser útil.”
Então, pessoal, o mundo está todo desabando e nós temos duas escolhas: ou a gente vai agarrar em coisas ou a gente vai ter compaixão, vamos começar a sair no mundo com a energia estável. Para fazer isso, melhor parar e criar uma intimidade com a própria mente.
Qual é a raiz mais profunda do preconceito que eu mesmo estou cultivando? Eu vejo o outro como desigual, eu vejo o outro como externo, eu vejo o outro como separado. Como é que eu cultivo essas coisas todas? A gente está vivendo em um mundo em que a mensagem que estamos passando uns pros outros é: “Não tem como cultivar, vai só vivendo”. Tem, sim, como cultivar, pessoal! Tem como vocês pararem e entrarem em contato com a mente de vocês, com o potencial de amor, de compaixão. Isso não é uma coisa que vocês vão só ler.
Nós somos uma cultura muito teórica. A gente sai daqui e fala: “Qual é o livro? Qual é a palestra?” Não! Parem. Parem. Sintam: como que está a respiração de vocês? Está condicionada à lista de tarefas ou não? Como é que está o olhar de vocês? Vejam as pessoas que vocês excluem da vida de vocês. Ninguém vai ser feliz excluindo alguém. A gente tem que achar em nós a origem da superação do preconceito, na raiz. Não adianta a gente ficar só falando sobre isso. Falar tem limite. É muito importante falar sobre isso, mas a gente precisaria parar, repousar também.
Então, eu aspiro que possamos ter essa intimidade com a nossa própria mente, e também que possamos sentar em roda, mas sem reproduzir os problemas, entendendo que nós mesmos, quando sentarmos em roda, precisaríamos oferecer uma mente diferente. Para superar os problemas sociais, melhor entender que a raiz está na nossa própria mente. Se vocês tiverem uma mente estável e uma mente compassiva olhando ao redor, não tem nada se ser feito, não tem nada que vá perturbar vocês, nada! Porque na hora da morte vocês vão ter compaixão pela pessoa que estiver na frente de vocês. Em qualquer momento vocês vão ter compaixão. E vocês não vão ser perturbados por aquilo que acontece ao redor.
Do jeito que estamos vivendo hoje, as coisas todas têm o poder de nos perturbar. As coisas tiram a nossa respiração. Fica muito difícil ser feliz e muito difícil ajudar o outro a ser feliz, porque eu preciso enchê-lo de coisas e boas condições, e mesmo assim o outro não vai ter felicidade. Experimentem: deem um trabalho pra ele, deem a possibilidade dele ir para um LiveTalk, e então eles vão virar vocês… e a gente também não está bem. Se resolvermos a vida de todo mundo e a deixarmos em uma situação estável igual a nossa… nós estamos mal!
Na verdade, precisamos de bem menos para ajudar os outros. Podemos ajudar o outro a reconhecer a mente livre dele, dar um mínimo de base. E nós mesmos não precisamos de tanta coisa, se olharmos bem. Daí vamos, espero, trabalhar menos, crescer menos, fazer menos publicidade. Vamos ter mais tempo, pessoal. É um pouco isso. Muito obrigado.