Tudo o que precisamos saber
Imagine uma pessoa andando em uma floresta imensa sem guia algum para explicar onde ela está, como andar melhor, como viver melhor, quais são os locais para evitar, quais são as trilhas que não podemos perder, como encontrar e ajudar outras pessoas… Qual a chance de essa pessoa adivinhar tudo sozinha em algumas décadas, no período de uma vida? É muito provável que ela morra sem saber grande coisa.
Pois podemos ver essa floresta como sendo a nossa vida, nosso corpo, nossa mente, nossas relações.
O fato é que, se bobearmos, podemos chegar na hora da morte com os mesmos draminhas e perturbações de hoje — só o conteúdo vai mudar. Depender de nossas próprias ideias, dos livros que lemos, de eventuais conversas profundas a cada 3 meses é arriscado demais. Depender de alguém que fala muito (ainda que bem intencionado), mas que nunca realmente explorou a floresta inteira, é igualmente arriscado.
Existem pessoas que dedicaram suas vidas a conviver com guias, a testar caminhos para andar melhor e encontrar outros, a investigar onde estamos e o que é essa floresta, assim como a maioria de nós dedica a vida para achar um local, fazer uma fogueira e começar a fazer um trabalho específico, tipo pegar água todo dia do rio mais próximo ou fazer sites.
É por isso que ao fim de um retiro de 9 dias de meditação com Alan Wallace resolvemos ir até a casa onde ele estava hospedado e fazer duas perguntas. Havíamos ouvido tantas visões precisas sobre o funcionamento da mente, sobre a dinâmica das relações, sobre a vida, sobre a montanha em geral, que precisávamos registar um resumo, um introdução da introdução da introdução ao resumo da introdução, algo para instigar outras pessoas a igualmente parar e aproveitar mapas e guias para seguir andando melhor. Tudo sem rodeio ou misticismo algum, direto ao ponto.
Na verdade, podemos ver o conteúdo da fala abaixo como tudo o que precisamos saber para criar a motivação de abrir um espaço em nossa rotina (de pegar água, comer, trabalhar…) para olhar ao redor da montanha. E infelizmente é algo que poucas pessoas, de fato, encontram. Poucas, muito poucas. Elas podem até abrir o link do vídeo no YouTube, mas tem tanta névoa que ao fim da fala é como se nada tivesse acontecido. É como se encontrassem uma das melhores trilhas da montanha, mas não tivessem como reconhecê-la, então elas seguem andando caoticamente em busca de um outro local para se abrigar.
Desejo que todos nós possamos entrar de alguma forma em algum caminho que parta de uma mente aflita e um corpo entortado, passe por práticas transformativas (budistas ou não, isso é o de menos) e nos conduza cada vez mais para uma mente estável, um corpo relaxado, um olho vivo, uma presença disponível às verdadeiras necessidades dos outros seres e uma felicidade que sequer imaginávamos ser possível.
Se esse caminho tem fim e exatamente por onde ele passa, eu não sei, mas seria muito bom descobrirmos logo se ele tem começo. :-)
P.S. 1: Estamos praticando este começo do começo no lugar (há várias práticas com esse foco, experimentadas por pessoas que relatam as mais diversas experiências, gerando um processo coletivo de aprofundamento).
P.S. 2: Para os que praticam meditação sob a orientação de um professor dentro de alguma linhagem, aqui um outro conselho que gravamos do Alan Wallace.