O círculo da iluminação
Há poucos dias terminei de criar 370 pinturas de “círculos”. São presentes oferecidos por todos nós — Lia, Geovana, Isabella, Stela, Gustavo e Gsé — que cuidamos do lugar para as pessoas da comunidade que estão estudando juntas o livro Zen e a Arte de Salvar o Planeta, do maravilhoso Mestre Zen Thích Nhat Hanh.
No japonês, o nome desse círculo é ensō (円相), e muito comumente é chamado de “círculo zen”. Mas, na verdade, buscar traduções para 円相 é desafiador e fascinante. Poderia ser algo bem simples, como “forma de círculo” ou “aparição circular”, até algo como “a manifestação clara e completa da natureza da realidade naquilo que surge com a aparência percebida como um círculo em seu exato momento e lugar”.
Afinal, o que significa essa imagem? A explicação rápida é que ela simboliza a iluminação. Mas não acho que esta seja a melhor forma de explicar, pois o ensō não é um objeto que represente outra coisa de maneira convencional.
No momento em que é visto — e precisamente por ser visto — o assim chamado “círculo” demonstra como surgem todas as coisas que percebemos e vivemos. E assim revela de forma direta a natureza da mente e da realidade. Um círculo está presente como está, sem representações, sem enfeites, sem intenção de nos agradar. Ele fala diretamente ao nosso coração. Não há desvio, nada extra. Nada separa quem vê do que é visto. Um círculo nos desperta sem explicações. Ele está lá como está. Ele mesmo é despertar. Por isso, no Zen, diz-se que uma das qualidades da boa arte é a “grande função” (大用: daiyō). Significa que algo despretensioso, simples ou aparentemente sem valor pode transformar a vida de alguém.

Um bom praticante traça o ensō com um único, relaxado e contínuo movimento de pincel. Não se deve corrigir ou retocar. A pincelada tem de ser decisiva. Não há volta. Por isso, o resultado é sempre imperfeito, irresolúvel, imprevisível e completo. É exatamente como na vida, não é?
Thích Nhat Hanh nos diz ainda mais:
“Ao traçar um círculo, eu inspiro enquanto faço a primeira metade do movimento. Ao fazer a segunda metade, eu expiro. Enquanto pinto o círculo, percebo também que minha mão contém as mãos do meu pai, da minha mãe e dos meus ancestrais. Assim, meu pai, minha mãe, meus ancestrais e mestres estão desenhando o círculo comigo. E, como estamos desenhando o círculo juntos, não há um eu separado. Ao pintar um círculo, é possível ver a verdade do não-eu.”
E Kazuaki Tanahashi, meu professor, fala assim:
“Eu sinto muita alegria quando pinto um círculo. Acho que essa alegria vem de não ter de me preocupar muito. De algum modo, eu sei o que vai acontecer: uma certa forma de círculo vai emergir. Então não preciso me preocupar. Pintar um círculo é sempre um processo de descoberta. É totalmente imprevisível. Eu simplesmente sigo fazendo o mesmo movimento, mas, a cada vez, surge algo diferente. Parece que nossa própria vida é assim: fazemos as mesmas coisas, mas o resultado é diferente, imprevisível. O não-saber surge e se torna parte de nossa vida.”

A pintura que cada pessoa receberá é original e única. Não é possível que tenha havido ou que venha a existir outra igual. Foi feita com pincel japonês (筆: fude) de caligrafia (書道: shodō) e tinta tradicional preta de fuligem (墨: sumi) sobre papel artesanal de fibras vegetais (和紙: washi). A peça é assinada com carimbos entalhados em pedra (判子: hanko) estampados em tinta vermelha de cinábrio (朱肉: shuniku). O selo menor (道: dō) significa “caminho espiritual”. O maior (慈海: Jikai) significa “oceano de compaixão”, nome artístico me dado por Sensei Kaz. Para saber a orientação correta da peça: os carimbos ficam na parte de baixo em posição vertical.
Que esse pequeno presente possa sempre inspirar e lembrar do que for mais necessário e benéfico! Esse é nosso desejo de coração!

No comunidade do lugar
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Para saber mais
Você pode conhecer o trabalho artístico do Fábio Rodrigues, seu treinamento com Sensei Kaz Tanahashi, encomendar ou ver pinturas pequenas e grandes que estão disponíveis:
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Em seu Instagram → @iodris


