Julia Cameron sobre o caminho da arte e da criatividade

por Isabella Ianelli

Julia Cameron é roteirista, diretora e autora de livros como O caminho do artista e The vein of gold (ainda sem tradução para o português).

Há anos Julia se dedica a estudar sobre criatividade e ajudar artistas e não-artistas a entrarem em contato com seus processos criativos por meio de exercícios simples e cotidianos. O impressionante no trabalho de Julia Cameron é como ela nos guia para um desbloqueio da criatividade com uma abordagem didática, realista e também espiritual.

Aqui, numa conversa com Samuel Bercholz (que foi aluno de Chogyam Trungpa Rinpoche e Thinley Norbu Rinpoche), Julia começa contando justamente dessa dimensão espiritual da criatividade e fala como desbloqueá-la é uma questão importante para uma vida mais feliz. Esta entrevista foi publicada na Lion’s Roar e aqui foi traduzida cuidadosamente por Laura Mayumi, participante do lugar.

Quando estamos criativos, nos tornamos mais felizes, mais estáveis, mais amigáveis“, conta Julia Cameron

Samuel Bercholz: Seu trabalho, teoricamente, é sobre criatividade, mas parece ser igualmente sobre ferramentas para o desenvolvimento espiritual. Qual é a conexão?

Julia Cameron: Frequentemente as pessoas me dizem: “Seu livro é budista”, ou “Este livro é sobre misticismo, sério, ou é um livro sufi”. Provavelmente isso acontece porque a criatividade é um caminho espiritual. E no núcleo dos vários caminhos espirituais estão as mesmas lições.

Por exemplo, recentemente eu li Thich Nhat Hanh pela primeira vez, e me peguei pensando que ele vê o mundo com um olhar de artista. Acho que é porque ele é muito centrado no coração. Embora a gente pense na criatividade como uma atividade intelectual, pela minha experiência a criatividade é uma atividade centrada no coração. Na verdade, nós criamos a partir do coração. Acho interessante que a palavra “heart” (coração) tenha a palavra “art” (arte) embutida nela. Ela também tem a palavra “ear” (ouvido) embutida.

Tanto o budismo quanto a criatividade envolvem a arte de escutar o coração. É daí que o impulso criativo surge. É por isso que eu não consigo distinguir criatividade de espiritualidade. Quando está praticando a criatividade, você se torna um indivíduo mais aterrado, e isso expressa algo universal.

Sou escritora há mais de trinta anos, e as questões que surgem da prática criativa são do mesmo tipo das questões que surgem de uma prática espiritual. Você pode olhar para sua insegurança. Você pode olhar para o seu lado questionador. Você pode olhar para a fantasia de que um desejo satisfeito vai te levar à satisfação. Até onde eu sei, isso é o que acontece com uma técnica de meditação bem fundamentada: você atravessa todas as baboseiras da natureza inquieta da mente e o que resta é apenas ser. E a partir desse apenas ficar, coisas são feitas. Então a criatividade é o ato de ser.

Samuel Bercholz: Seus exercícios de criatividade também poderiam ser vistos como uma forma de terapia.

Julia Cameron: De novo, eu não faço essas definições. Meus livros são ensinados por inúmeros terapeutas. O que eles perceberam é que se puderem curar a criatividade de seus clientes, a neurose desaparece. É por isso que todos amam essa abordagem e os terapeutas facilitam rodas de artistas o tempo todo.

Minha sensação é de que grande parte do que consideramos ser neurose é, na verdade, criatividade bloqueada. Quando as pessoas começam a viver em sua criatividade, a “neurose” desaparece. Não sei ao certo se somos uma cultura neurótica, acho que somos mais uma cultura reprimida tentando expressar o eu, e você pode escrever esse eu com “e” minúsculo ou “E” maiúsculo.

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Sinto que estamos exaustos de psicoterapia. Como O caminho do artista é empírico, ele traz as pessoas de volta para dentro do corpo e do coração. Ele está sendo usado pelos terapeutas para trazer as pessoas a práticas que envolvem o corpo, e é por isso que todo mundo está se acalmando.

Um dos segredos mais bem guardados do mundo é o fato de que a arte deixa as pessoas sãs e felizes. Se você pensa que a criatividade te deixa louco e sem grana, é melhor não entrar nessa. Por outro lado, se ela te faz ser expansivo e conectado e alegre e vibrante e belo, isso pode até causar certo nervosismo, mas talvez a gente devesse tentar.

O único momento em que fico em apuros é quando eu não estou fazendo algo pra mim. Se estou muito ocupada ensinando como fazer minha própria arte, fico muito triste. É uma questão de equilíbrio pra mim. Preciso me manter primeiro como artista e depois como professora. Preciso estar fazendo coisas e então compartilhando a partir desse processo. Se estou apenas ensinando o que já aprendi, sem fazer minha prática, para aprender mais, fico desesperadamente infeliz. É perigoso para mim.

Quando estamos criativos, nos tornamos mais felizes, mais estáveis, mais amigáveis. Nós temos essa imagem dos escritores como reclamões rabugentos. Bom, quando eles estão bloqueados eles são mesmo, mas um escritor que está escrevendo geralmente é uma pessoa bem alegre, mesmo que seja alegre em segredo. Muito do que eu ensino é sobre brincar. Acho que conforme nos tornamos mais leves, levamos nossas ideias mais a sério.  

Samuel Bercholz: Você quer dizer “leve” (light) como “mais brilhante” ou “despreocupado”?

Julia Cameron: Despreocupados. Conforme nos tornamos mais despreocupados, paradoxalmente levamos nossas ideias mais a sério. Se estamos tentando levar nossas ideias a sério sem um coração leve, não temos paixão para executá-las. É por isso que digo que criatividade é uma questão do coração: é preciso coração para executar. Se você consegue trazer as pessoas de volta pro coração, você faz com que elas ponham em prática sua criatividade. Se você deixa elas na cabeça, o coração se torna manco, e a capacidade de fazer coisas que conectam se torna manca.

Samuel Bercholz: Boa parte dos livros O caminho do artista e The Vein of gold é sobre como paixão e criatividade se conectam.

Julia Cameron: Eu acho que paixão é uma coisa maravilhosa. Recentemente fui repreendida por uma xamã porque ele entendeu que eu estava usando a palavra ‘paixão’ no sentido de emoção e turbulência. Eu uso ‘paixão’ no sentido de vontade e comprometimento. Acredito que somos destinados a estar totalmente presentes, presentes com compromisso apaixonado.

Um dos aspectos de certas formas de budismo com que eu tenho um pouco de dificuldade é que ocasionalmente tenho a sensação de que as pessoas estão usando a meditação para evitar vivenciar a encarnação que todos nós compartilhamos. Elas tornam-se desconectadas, se fixam em uma visão mais ampla, e isso se torna: uma folha cair de uma árvore e uma criança morrer têm o mesmo valor. Acho até que podemos manter essa visão por algum tempo, mas como humanos estamos destinados a nos identificar bem mais profundamente do que isso. Acredito que a criatividade enquanto caminho espiritual é muito um caminho do sentir.

Samuel Bercholz: “Sentir” no sentido de paixão ou de sinceridade?  

Julia Cameron: Não vejo essas duas coisas como coisas diferentes. Você vê?

Samuel Bercholz: Não, mas… às vezes sentir é só um turbilhão. Há diferença entre o turbilhão da emoção e o sentimento sincero?

Julia Cameron: Quando estamos em um redemoinho de emoção, curiosamente isso é intelectual. Ideias confusas e conflitantes estão ligadas às emoções, da mesma forma que a fumaça contém partículas. Quando estamos em nosso coração, há clareza no sentimento, pureza no sentimento. É menos como fumaça e mais como água. A criatividade permite que você purifique emoções turbulentas.

Samuel Bercholz: Aterrando-as? Liberando-as? O que acontece?

Julia Cameron: Sabe, pra mim é difícil falar tão teoricamente. Por exemplo, hoje de manhã eu estava muito frustrada. Eu sentei e escrevi quatro pequenos poemas, e então eu estava bem. Os poemas tanto aterraram quanto liberaram o que eu estava sentindo.

Acho que deveríamos falar sobre a prática, porque o lado intelectual disso não faz nenhum sentido. Você pode ler tudo sobre criatividade, tudo sobre meditação, tudo sobre espiritualidade, e que diferença isso faz?

Ok, vamos dar uma olhada nos fundamentos práticos de O caminho do artista. De manhã, ao acordar, escreva três páginas à mão sobre qualquer coisa.

Samuel Bercholz: O que te inspirou a fazer isso? Isso é algo que você criou, e as pessoas estão fazendo no mundo todo.

Julia Cameron: Não começou com uma ideia. Um dia eu levantei e comecei a fazer isso, e achei que funcionou.

Samuel Bercholz: O que você quer dizer com “funcionou”?

Julia Cameron: Me tornou a prioridade do meu dia, me deixou presente na minha vida, me deu uma sementeira de ideias que mais tarde viraram trabalho criativo, me deixou profundamente presente. Então eu fiz mais. (risos)

Samuel Bercholz: E aí você prescreveu pra todo mundo. Como você soube que isso não era só pra você?

Julia Cameron: As pessoas me ligavam dizendo estar confusas, e eu dizia “tente isso”, e funcionava pra elas. Foi assim que a coisa cresceu: eu simplesmente compartilhei a ferramenta. Foi uma ferramenta que surgiu do fato de que sou uma escritora com o hábito de escrever; portanto, pra mim foi a coisa mais natural do mundo levantar de manhã e começar a escrever, e então perceber o que isso causou em mim.  

Eu também acredito em reencarnação. Acho que sou professora, e suspeito que já sou professora há muito tempo. Muito do que sei vem dos meus trinta anos de trabalho como escritora, mas suspeito que muito do que eu sei é lembrado. E acho que isso é verdade para todos nós, que muitas vezes estamos fazendo nesta vida um trabalho que começamos há muito tempo. É isso que acho que O caminho do artista é; provavelmente é um trabalho que comecei há muito tempo. Ou que artistas começaram há muito tempo.

Samuel Bercholz: Então, você acha que há uma ancestralidade de artistas, assim como uma ancestralidade familiar?

Julia Cameron: Com certeza. Quando se fala sobre prática espiritual, as pessoas falam sobre a linhagem da prática. Eu acho que estou diretamente dentro da linhagem da criatividade, dos tempos da caverna em diante.  

Samuel Bercholz: Então, isso é um dom natural, ou algo que você desenvolveu?

Julia Cameron: Acho que todos temos dons naturais, e então os desenvolvemos. E acho que meu trabalho está ajudando as pessoas a se darem conta de seus dons e a aprimorá-los.

Samuel Bercholz: Você acha que todos têm dons?

Julia Cameron: Com certeza!

Samuel Bercholz: Então por que tanta gente frustrada?

Julia Cameron: Acho que nós esquecemos quem somos. Acho que esquecemos que temos dons. Fomos levados a sentir que não temos dons: temos uma enorme mitologia de que a criatividade pertence a uma pequena elite que sempre soube, que não tem medo, que veste preto.

Então o que O caminho do artista faz é reconectar as pessoas a seus próprios impulsos criativos, até o ponto em que elas se tornam mais fortes e passam a se mover na direção desses impulsos. É essencialmente um processo espiritual, um processo de escuta: com as páginas matinais você está escutando o que está se passando com você. Você está colocando no papel e comunicando a si mesmo e, de certo modo, para o mundo.

A segunda ferramenta básica é algo chamado de “encontro com o artista”, que é um período semanal de solitude festiva. É como ligar o rádio para receber o sinal. Com as páginas matinais você está se escutando e comunicando e então você vai para a solitude, uma solitude festiva e envolvida – você está no mundo, você está interagindo, você começa a sentir e ouvir outros impulsos. Você começa a receber.

Samuel Bercholz: Em The vein of gold você fala sobre caminhada como mais do que uma atividade física. Tem a ver com imagens visuais e todo tipo de coisa chegando.

Julia Cameron: Somos ecossistemas. A criatividade é um ecossistema. Se queremos ser criativos, nós pescamos no poço desse ecossistema. É como se você tivesse um tanque de trutas interno e quando você precisa de criatividade você vai pescar lá. Depois você tem que reabastecer, renovar o estoque.

Quando você caminha, algumas coisas acontecem. Uma é que você tem um fluxo de imagens se movendo em sua direção. Você vê e percebe coisas. Você vê um passarinho deslizando sob um galho de pinheiro. Você vê uma pessoa sem-teto, se está na cidade. Você percebe a imagem, e a imagem vai para dentro do poço. O poço faz parte do coração, e é daí que sua arte vem.

Caminhar também te move através de uma ponte para um campo mais amplo de ideias. Isso permite que você escute frequências diferentes. Eu sinto como uma espécie de clique na parte de trás da minha cabeça. Começo a ter insights e inspirações que parecem ser de uma ordem mais simples e mais elevada. Há algo extremamente poderoso em visualizar e se mover ao mesmo tempo. Pode ser só porque temos mais energia para lidar, mas isso realmente ajuda a esclarecer as coisas, e uma vez que uma coisa é esclarecida, ela começa a poder se manifestar.

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Eu chamo isso de atravessar para a imaginação. Quando fazemos as coisas, elas começam como formas-pensamento, como mapas espirituais, e quando estamos caminhando e visualizamos algo, estamos na verdade desenhando a forma.

Como escritora, se fico emaranhada na linha de algum enredo, saio para caminhar. Não estou pensando particularmente no meu enredo; estou pensando no pequeno passarinho que vi, estou pensando nos patos, se estou em Nova Iorque talvez esteja pensando nas cordas de veludo antigas que vi na vitrine. E enquanto estou pensando nessas coisas, o “Ah! É isso que posso fazer com meu enredo!” surge. A criatividade é meio como o Zen: conforme você foca no norte, as soluções surgem no sul. Não é linear.

Samuel Bercholz: Bom, isso é mágico. É assim que a prática espiritual é: funciona porque funciona. Quer dizer, você pode fazer todo um estudo científico e isso não ajudar em nada. Você pode criar justificativas sobre por que isso funciona, mas são só justificativas.

Julia Cameron: Sabe, se inteligência fosse a solução, bem poucos de nós estaríamos ferrados. Inteligência não é a solução. O coração é a solução. É por isso que não gosto do termo “mindfulness”. Gosto do termo “heartfulness”. É mais preciso.

Samuel Bercholz: De fato, o termo é traduzido do sânscrito, e quem quer que tenha traduzido escolheu a palavra “mind” (mente) ao invés de “heart” (coração). Mas mindfulness se refere ao sânscrito cotta, que na verdade é “coração”. Então “heartfulness” realmente é mais preciso, não tem nada a ver com nossa cabeça.

Julia Cameron: Bom, que bom. Eu sempre pensei, que palavra péssima, não pode ser que seja isso mesmo que eles querem dizer.

Então estamos realmente falando sobre o que brota do coração.

Samuel Bercholz: E você não está falando sobre aquela coisinha de carne, né? O que você quer dizer com “coração”?

Julia Cameron: A essência. O centro. O lugar que é ao mesmo tempo individual e universal e que cada um de nós carrega. Esse lugar da verdade. Acho que coração é uma ótima palavra para isso.

Samuel Bercholz: Qual é a relação entre tempo e criatividade? Você está lutando com um prazo agora, trabalhando num livro, e todos nós que estamos envolvidos com o mundo da criatividade sabemos que sempre há prazos e o pânico que vem com eles. Você acha que é positivo que existam restrições ou seria melhor se as coisas fossem mais soltas?

Julia Cameron: Essa é uma questão central. Nós ansiamos por mais tempo, na ilusão de que se tivéssemos tempo livre estaríamos criando o tempo todo. O truque é realmente aprender a usar o tempo que temos.

O que tento ensinar é como ser criativo dentro da vida que você tem. Somos uma sociedade viciada em trabalho. Somos viciados em trabalhar, e geralmente em trabalhar só por trabalhar. Mas quando você está feliz, descansado e em contato consigo mesmo, geralmente você consegue trabalhar com rapidez. Isso porque quando você tem alguma clareza é fácil fazer algo com rapidez. O truque na verdade é a clareza.

As pessoas dizem “não tenho tempo pra fazer as páginas matinais”, mas se elas fazem as páginas matinais isso lhes dá clareza, e faz com que o resto da vida seja feito de forma mais rápida e fácil.

Agora, toda a questão de ser criativo num ambiente de negócios é uma questão de as pessoas estarem conectadas e com clareza, o que é contagioso. Eu uso o termo “contágio criativo”. Muitas vezes, se uma pessoa no trabalho começa a trabalhar com ferramentas para o surgimento da criatividade, alguém vai dizer: “O que você está fazendo? Você parece muito diferente”. Então elas vão começar a usar as ferramentas e surge uma espécie de movimento de base por trás da hierarquia; fora da vista dos superiores tem essas pessoas que estão se tornando cada vez mais aterradas enquanto também se tornam mais visionárias, inovativas e individuais.  

Essas ferramentas nos deixam aptos a visualizar nossas escolhas em qualquer situação que se apresente. No meio de um dia complicado de trabalho você pode fechar a porta do escritório por dez minutos e ouvir uma música. Você pode dar uma parada e escrever meia página só pra clarear os pensamentos. São ferramentas muito portáteis. Esses micro intervalos ao longo do dia nos mantêm conectados, e um simples momento de conexão cria espaço para o que chamo de graça, ou para o que outras pessoas podem chamar de inspiração ou intuição.

Se fizermos uma mínima abertura, a criatividade é possível. É por isso que se parece tanto com uma prática espiritual.

Samuel Bercholz: Você quer dizer algo sobre os vários tipos de vício e como eles se relacionam com a criatividade?

Julia Cameron: Nossa mitologia nos diz que artistas são pessoas viciadas. Que são promíscuas, drogadas, alcoólatras. Passamos a pensar que de certo modo esses vícios são parte do processo criativo.

A minha experiência é exatamente o oposto. Minha experiência é que a criatividade é o oposto do vício. Ficamos assustados quando sentimos a força de nossa própria energia criativa, porque não sabemos como aterrá-la. É por isso que minhas ferramentas tendem a ser ferramentas de aterramento, e quando a criatividade está devidamente aterrada e em uso, os vícios caem por terra. Em contrapartida, se você vê uma pessoa viciada, o que você está vendo é uma alma profundamente criativa recorrendo a um substituto para a autoexpressão.

Quando as pessoas ficam sóbrias, podem ser profundamente criativas. Quando as pessoas ficam emocionalmente sóbrias e saem de um processo de vício – como o vício em trabalho, em sexo ou em relacionamentos – elas liberaram para si mesmas uma incrível quantidade de energia nova e utilizável, com a qual elas podem fazer coisas maravilhosas. Isso não significa apenas escrever um poema ou fazer um vaso de cerâmica. Pode ser um novo sistema para o escritório. Pode ser uma renovação da forma como são feitas as reuniões de pais e professores.

Mas muitas vezes o que acontece é que quando experienciamos nossa energia criativa, não a reconhecemos como energia criativa; pensamos que é só ansiedade. Então, ao invés de dizer “Como posso direcionar essa energia e o que eu poderia fazer?”, nós tentamos bloqueá-la. Nós a bloqueamos pensando em uma aventura sexual super excitante. Nós a bloqueamos com um potinho de sorvete. Nós a bloqueamos escolhendo um trabalho viciante. Mas ela não vai embora; ela ainda está ali. A criatividade está sempre ali, porque ela é tão inata à humanidade como o sangue e os ossos. Ela é a força vital.

Samuel Bercholz: Embora muita gente diga que criatividade e sexualidade não são coisas diferentes. Você as vê como diferentes?  

Julia Cameron: Não. Minha tendência é pensar que a energia em si é pura, e que podemos abusar dela. Você consegue sentir a diferença entre um encontro sexual viciante e amortecido e um encontro sexual em que você fica presente e a outra pessoa fica presente.

Samuel Bercholz: Estar no presente é a questão?

Julia Cameron: Acho que sim.

Samuel Bercholz: É a mesma coisa com a criatividade?

Julia Cameron: Criatividade é viver no momento conectado.

Samuel Bercholz: O que você quer dizer com “conectado”?

Julia Cameron: Sincero, presente, alerta, atento, envolvido.

Samuel Bercholz: Obrigado.      

Leia a entrevista original →

A tradução é de Laura Mayumi, com revisão de Gustavo Gitti e Isabella Ianelli.