É hora de dizer sim!

por Gustavo Gitti

 “Dizer não às más ideias e aos maus atores simplesmente não basta. O mais firme dos nãos tem de ser acompanhado por um sim ousado e visionário — um plano para o futuro que seja crível e atraente o suficiente para que um grande número de pessoas se movimente para vê-lo realizado.”

—Naomi Klein (no livro “Não basta dizer não”)

Observe a quantidade de tempo que perdemos repercutindo falas absurdas de políticos, memes e hashtags, distraídos por uma enxurrada de desinformação. Sem querer, ficamos impotentes. Deixamos que a notícia do dia sequestre nossas conversas e defina nossos movimentos. Quando os problemas se intensificam, nossa reação habitual é negar, reclamar, nos juntar pela oposição, apontar culpados e inimigos. Isso quando não “ligamos o foda-se” e tentamos só buscar algum sucesso pessoal.

E se a gente começar a afirmar outra coisa? Em vez de apenas combater monstros e problemas, e se olharmos para a nossa própria bondade e criatividade? E se conectarmos ainda mais nossas qualidades positivas, sonhos, visões amplas e comunidades? E se trocarmos desespero por compaixão, medo por alegria?

É hora de retomarmos nossa dignidade. É hora de dizer sim: um outro mundo é possível. Se não deixamos nossa visão ser aprisionada, a vida ser rebaixada e as conversas serem pautadas externamente, somos muito mais poderosos do que parecemos. Como diz Alan Wallace, esse mundo precisa ser chacoalhado. E calhou de ser por nós. Quem mais poderia chacoalhar o mundo?

Tem algo na nossa cara pedindo para ser feito…

Artistas, intelectuais, ativistas, contemplativos, pessoas ao nosso redor com alguma lucidez… Todo mundo está tentando falar que é hora de desbloquear nossa imaginação, sonhar utopias, reforçar qualidades, redes compassivas de autoorganização e movimentos visionários.

Reunimos várias falas recentes que ressoam a visão do “Sim”. Olhe como isso surge por todo o lado, sempre apontando na mesma direção:

“A cada declaração, a cada ministro, a cada indício de corrupção amontoam-se mais gritos. É necessário reagir. Mas só reagir é exaustivo. Como o espaço público está saturado de gritos, a reação se esgota em si mesma. Numa época em que se vive de espasmo em espasmo, cada vez mais rápidos, o que parece movimento com frequência é paralisia. A paralisia do tempo da velocidade cria a ilusão de movimento exatamente porque é feita de espasmos. Como parar de apenas reagir e se mover com consistência, estratégia e propósito?”
—Eliane Brum

“Meu conselho para nós agora, nessa confusão do Brasil, é ficar muito atento para as ações positivas e focar, jogar muita luz, potencializar o que formos encontrando de falas e ações positivas.”
—Clarice Niskier (em uma fala para 400 mulheres no Paulistanas 2019)

Você não muda as coisas lutando contra a realidade atual. Para mudar algo é preciso construir um modelo novo que tornará obsoleto o modelo existente.”
—Buckminster Fuller

“Estamos com um déficit de imaginação do que é possível manifestarmos nessa vida.”
—Tim Olmsted

“Ao desejarmos algo que não temos, buscamos no oceano das possibilidades, no reino do possível, algo que ainda não é realidade mas que poderia ser – desejos, ideais, aspirações. Algo que ainda não está presente a não ser no reino das possibilidades. Mas a realidade não consiste apenas de fatos; a realidade consiste também de possibilidades. Se não fosse assim, nada nunca mudaria. Teríamos sempre apenas os fatos.”
—Alan Wallace

“Além do medo, do ódio e da melancolia paralisantes, há outros afetos que podemos fazer circular. E pra isso será necessária uma confiança enorme naquilo que a nossa imaginação pode criar. Nossa imaginação foi bloqueada.”
—Vladimir Safatle (em uma fala no vão da Faculdade de História da USP)

“Como o futuro é ilimitado e os seres sencientes são incontáveis, nossas aspirações podem também ser ilimitadas. Com essa atitude, podemos atravessar qualquer problema, porque podemos fazer tirar os limites de nossas aspirações e projetá-las até que o problema se resolva. Isso torna inabalável a nossa resolução de nos estendermos o quanto for necessário. Quando nossas aspirações são vastas como o céu e se estendem até o tempo em que todo o sofrimento cessa, nós não ficaremos desapontados ou frustrados se não enxergarmos resultados imediatamente ou mesmo num futuro próximo.”
—Sua Santidade o 17º Karmapa (no livro “Interconnected”)

“Poucas pessoas
fazendo coisas simples
em lugares pequenos
conseguem mudar a face da Terra.”
(Provérbio africano)

“A gente está desamparado. E não tem como resolver o desamparo só com uma narrativa correta, só com um discurso legal, só com uma figura pública que sonhamos poder resolver todos os nossos problemas. Superar o desamparo passa por ação coletiva, passa por identificar todos os problemas e pautar soluções. E tem de conversar e compreender de onde essas contradições estão vindo. Tudo isso em tem a ver com organização. […] Todo mundo fala a mesma coisa: a tem que se organizar. Eu entendo de onde vem a rejeição, mas a gente não vai conseguir consertar as coisas somente reclamando no Twitter, cobrando que o outro conserte para a gente. Essa carência que estamos sentindo é fruto de nossa própria desorganização.
—Sabrina Fernandes

“No Brasil do pós-2013, infelizmente, a gente sonhou muito, mas fomos sequestrados pelo ódio nos organizamos em torno do “não”. “A gente é contra”, “A gente odeia”, “Contra tudo e contra todos”… Não estou dizendo que essas coisas não tiveram valor, mas não conseguimos construir. Sacou? Acho que não conseguimos alcançar a maturidade que o pós-luta exigia.”

“Eu acho que o ódio, como estratégia, falhou. O ódio como estratégia foi que trouxe a gente até aqui. A gente só vai conseguir construir algo se a gente conseguir fazer uma coalizão. Em torno do “sim”, em torno de “OK, vamos construir isso”. E a gente não está falando sobre construção…”

“O que eu acho que a gente tem que fazer nesse momento é recuperar a calma, que é a primeira coisa que nos roubaram. A rotina é muito corrida e precisamos sempre estar nos virando para conseguir dinheiro. Sem calma, ninguém pensa direito. Nesse sentido, eu acho que a serenidade é revolucionária. Sabe aquele momento em que você tretou com alguém porque estava com a cabeça quente e depois de um tempo pensou de maneira diferente sobre a situação? Quero fazer com que as pessoas pensem direito. Várias pessoas, que no fundo concordam entre si, estão brigando.”

—Emicida

SIM – Intensivo online de práticas e sonhos para abrir 2020

Aproveitando o clima de começo de ano, convidamos Elizabeth Mattis-Namgyel, Ailton Krenak, Reinaldo Nascimento e Joan Halifax para nos orientar por quatro semanas de estudo e prática. Será online, com participantes de todo canto do Brasil e de outros países. E vamos materializar essa visão em um presente especial que em breve pode estar em sua casa.

Veja como será e comece o ano praticando junto conosco.