Como parar de apenas reagir à notícia absurda do dia?
Vozes de muitos lugares e tempos diferentes estão tocando na importância de desbloquearmos nossa imaginação e nos juntarmos para sonhar e afirmar que um outro mundo é possível. As citações abaixo são apenas alguns poucos exemplos que reuni nos últimos tempos. Desfrute! Se tiver interesse, nossa comunidade vai oferecer um ciclo online dedicado inteiramente a esse processo. Veja como será: olugar.org/sim
“A cada declaração, a cada ministro, a cada indício de corrupção amontoam-se mais gritos. É necessário reagir. Mas só reagir é exaustivo. Como o espaço público está saturado de gritos, a reação se esgota em si mesma. Numa época em que se vive de espasmo em espasmo, cada vez mais rápidos, o que parece movimento com frequência é paralisia. A paralisia do tempo da velocidade cria a ilusão de movimento exatamente porque é feita de espasmos. Como parar de apenas reagir e se mover com consistência, estratégia e propósito?”
—Eliane Brum
“Somos muito bons em fazer as pessoas se revoltarem. Um dos desafios que a gente tem agora é fazer as pessoas voltarem a acreditar que um outro mundo é possível.”
Orlando Calheiros
(em conversa recente com Bruno Torturra)
“Dizer não às más ideias e aos maus atores simplesmente não basta. O mais firme dos nãos tem de ser acompanhado por um sim ousado e visionário — um plano para o futuro que seja crível e atraente o suficiente para que um grande número de pessoas se movimente para vê-lo realizado.”
—Naomi Klein (no livro No is not enough, que aqui saiu como Não basta dizer não)
“A verdade mais escondida é que o mundo é algo que nós fazemos — e poderíamos igualmente fazer de outro modo.”
—David Graeber
“Temos que começar por criar as instituições de uma sociedade livre agora. É por isso que os anarquistas falam de democracia direta e também de ação direta. Gosto de pensar nisso como uma insistência desafiadora em agir como se já fôssemos livres.”
—David Graeber (nessa entrevista)
“O que o vírus consegue com a humilde circulação boca a boca de perdigotos – a suspensão da economia mundial – nós começamos a poder imaginar que nossos pequenos e insignificantes gestos, acoplados uns aos outros, conseguirão: suspender o sistema produtivo.”
—Bruno Latour (“Imaginar gestos que barrem o retorno da produção pré-crise”)
“Você não muda as coisas lutando contra a realidade atual. Para mudar algo é preciso construir um modelo novo que tornará obsoleto o modelo existente.”
—Buckminster Fuller
“Esse mundo precisa ser chacoalhado. E calhou de ser por nós. Quem mais poderia chacoalhar esse mundo?” […] “Ao desejarmos algo que não temos, buscamos no oceano das possibilidades, no reino do possível, algo que ainda não é realidade mas que poderia ser – desejos, ideais, aspirações. Algo que ainda não está presente a não ser no reino das possibilidades. Mas a realidade não consiste apenas de fatos; a realidade consiste também de possibilidades. Se não fosse assim, nada nunca mudaria. Teríamos sempre apenas os fatos.”
—Lama Alan Wallace
“Além do medo, do ódio e da melancolia paralisantes, há outros afetos que podemos fazer circular. E para isso será necessária uma confiança enorme naquilo que a nossa imaginação pode criar. Nossa imaginação foi bloqueada.”
—Vladimir Safatle (em 2018, no vão da Faculdade de História da USP)
“Estamos com um déficit de imaginação do que é possível manifestarmos nessa vida.”
—Tim Olmsted (que esteve conosco no SIM 2019)
“Como o futuro é ilimitado e os seres sencientes são incontáveis, nossas aspirações podem também ser ilimitadas. Com essa atitude, podemos atravessar qualquer problema, porque podemos tirar os limites de nossas aspirações e projetá-las até que o problema se resolva. Isso torna inabalável a nossa resolução de nos estendermos o quanto for necessário. Se nossas aspirações são tão vastas como o céu e se estendem até o tempo em que todo o sofrimento cessar, nós não ficamos desapontados ou frustrados se não enxergamos resultados imediatamente ou mesmo num futuro próximo.”
—Sua Santidade o 17º Karmapa (no livro Interconnected)
“Se todos os cientistas do mundo tentarem me provar que esta é a realidade, eu vou ser o último homem no mundo clamando que esta não é a única realidade possível! Não! Pode haver outra realidade! A realidade não tem que ser necessariamente como esta por causa da maneira de pensar de alguns, por causa dos interesses de alguns poderosos. A realidade pode ser transformada e deve ser transformada. O fato é que meus sonhos permanecem vivos, a força dos meus sonhos me leva a dizer a vocês mais uma vez: por favor, não desistam. Não permitam que esta nova ideologia do fatalismo mate a sua necessidade de sonhar. Sem sonhos não há vida, sem sonhos não há seres humanos, sem sonhos não há existência humana. […] Mudar é difícil mas é possível. Se em algum momento eu começasse a acreditar que é impossível mudar não haveria mais razão para que eu continuasse a trabalhar, não haveria mais esperança. Se a mudança não for possível e se não houver esperança, só nos resta o cinismo. Se nós cairmos no cinismo, no fatalismo, nós morremos apesar de estarmos vivos.”
—Paulo Freire (no livro Pedagogia da solidariedade)
“Se você tem uma aspiração grandiosa (atingir a iluminação para beneficiar todos os seres), você não vai se incomodar com uma tragédia aqui ou um fracasso ali. Você vai dormir bem, você vai viver bem. Se você não tem uma visão grandiosa, aí sim você terá muitas preocupações. As aflições mentais tem medo de uma aspiração grandiosa. Se a sua aspiração é limitada e pequena, então há espaço para você ser enganado. […] Se você deseja que alguém seja feliz, às vezes isso parece que é apenas um desejo, não realidade. Às vezes você não sente isso de verdade. E mesmo que a pessoa encontre alguma felicidade, você não acha que isso tem a ver com seu desejo. É por isso que você precisa entender como a mente opera de acordo com causas e condições. Se uma nação inteira decidir desejar o bem para os outros, se cada pessoa fizer isso todo dia às nove da manhã… Você sabe, nossas ações seguem nossas motivações. O mundo está precisando de bons desejos.”
—Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpoche (nesse ensinamento de 2016)
“Nós não estamos condenados a viver nos mundos que nós herdamos. O mundo não é algo que está pronto, do qual somos vítimas. O mundo nós construímos com nossos olhares. Ele é plástico, mágico.”
—Lama Padma Samten (no TEDx Amazônia, em novembro de 2010, vídeo completo)
“As coisas, na verdade, estão todas abertas. Nós podemos simplesmente nos levantar e construir os mundos favoráveis. Nós não somos prisioneiros daquilo que está ao redor. A nossa prisão está no nível sutil, porque não conseguimos viver de outro modo. […] Parece que o mundo inteiro é isso, abrimos os jornais e é isso, ligamos a TV e é isso, mas não é isso — se a gente se levanta e começa a se mover, as coisas estão abertas. Mesmo as fronteiras econômicas não são sólidas. As mentes das pessoas têm uma mobilidade. Se a gente se dirige às pessoas além das fronteiras, elas respondem além das fronteiras. Existe uma comunicação. A compaixão é um processo desse tipo. […] Compaixão é um atravessar das regras, atravessar das fronteiras e das barreiras todas. Podemos manifestar amor, compaixão, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria em todas as direções, independente das paredes e das aparências que as coisas têm. Nós podemos nos dirigir desse modo às pessoas e elas começam a responder desse modo também. Esses são os mundos verdadeiros. Mas de repente vamos nos desestruturando dentro de papéis, criamos mundos rígidos e pensamos que precisamos obedecer àquilo, mas não precisamos, pois são mundos fabricados, não são mundos reais. O mundo que atravessa as fronteiras, que atravessa as limitações é o mundo verdadeiro.”
—Lama Padma Samten (no Teatro Hebraica, em Porto Alegre, setembro de 2017, transcrição aqui)
“Utopia, dirão! Mas quem o disser nos condena à barbárie. E é à barbárie que nos condenam também as narrativas e especulações em que estamos literalmente afogados que ilustram ou consideram adquiridas a passividade das pessoas, sua demanda de soluções já prontas, sua tendência a seguir o primeiro demagogo que aparecer. O que é surpreendente, já que é precisamente o que permite e propaga o domínio da tolice. Precisamos
desesperadamente de outras histórias, não dos contos de fadas, em que tudo é possível para os corações puros, para as almas corajosas ou para as pessoas de boa vontade reunidas, mas das histórias que contam como situações podem ser transformadas quando aqueles que as sofrem conseguem pensá-las juntos. Não histórias morais, mas histórias “técnicas” a propósito desse tipo de êxito, das ciladas de que cada uma precisou escapar, das imposições cuja importância elas reconheceram. Em suma, histórias que recaem sobre o pensar juntos como “obra a ser feita”. E precisamos que essas histórias afirmem sua pluralidade, pois não se trata de construir um modelo, e sim uma experiência prática. Pois não se trata de nos convertermos, mas de repovoar o deserto devastado de nossa imaginação.”
—Isabelle Stengers (no livro No tempo das catástrofes)
“Nossos líderes ficaram confusos. Então… Somos todos líderes agora.”
—Anne Herbert, Margaret Paloma Pavel e Mayumi Oda
(no começo do maravilhoso Random kindness & Senseless acts of beauty)
Se você lembrar ou encontrar alguma fala que enriquece ainda mais esse coro revolucionário, por favor me envie, agradeço: gustavo@olugar.org
Quer imaginar e proclamar um outro mundo?
É hora de retomar nossa dignidade. É hora de desbloquear nossa imaginação para expandir os limites do que hoje parece possível. É hora de dizer sim para um outro mundo. Se não deixamos nossa visão ser aprisionada, a vida ser rebaixada e as conversas serem pautadas externamente, somos muito mais poderosos do que parecemos.
A partir de 6 de fevereiro, teremos a quinta edição do Intensivo SIM, dessa vez com os seguintes professores convidados: Erik Pema Kunsang, Kazuaki Tanahashi Sensei, Mestra Joana Cavalcante, Deborah Eden Tull, Sulaiman Khatib e Vladimir Safatle. Em seus trabalhos, todos manifestam a atitude visionária e propositiva que o Brasil e o mundo tanto precisam.
Começa dia 6 de fevereiro! Será on-line, com mais de mil participantes de todos os estados do Brasil e de mais de 20 países.